Mundo já esteve no precipício da guerra nuclear por quatro vezes. Conflito na Ucrânia traz de volta o fantasma da destruição

Com o conflito na Ucrânia, a sombra nuclear volta a pairar sobre o planeta, mas hoje o cenário é mais perigoso, tendo em conta que são mais os países que dispõem de armas capazes de dizimar regiões inteiras num abrir e fechar de olhos.

A probabilidade de erros técnicos que podem resultar no lançamento de armas nucleares é maior nos dias de que correm, conta o ‘La Vanguardia’, mais do que era durante o período da Guerra Fria.

Em 1979, os sistemas de alerta dos Estados Unidos deram conta de que cerca de 200 mísseis teriam sido lançados pela União Soviética e se preparavam para cair em solo norte-americano. O então Presidente Jimmy Carter tinha poucos minutos par reagir e ordenar um ataque retaliatório. As frotas aéreas norte-americanas já se estavam a lançar aos ares para intercetar os projéteis.

Contudo, os satélites dos EUA não detetavam quaisquer mísseis lançados por Moscovo, tendo-se vindo a descobrir que o alerta tinha resultado de um erro informático do sistema de defesa aérea norte-americano. Segundo consta, teria sido introduzida uma simulação no sistema que era usada em treinos e que o sistema tomou como sendo real.

Outra situação em que o mundo deu um passo em falso em direção ao abismo nuclear, ocorreu em 1983, num contexto de crescente tensão entre o bloco ocidental e o campo soviético, com o Presidente Ronald Reagan a descrever a URSS como o “império do mal”.

A 26 de setembro, os sistemas de alerta soviéticos detetaram sinais que indicavam que cinco mísseis intercontinentais com estariam a caminho de território da URSS. O coronel Stanislav Petrov tinha a obrigação de alertar os altos comandos do ataque, que dariam ordem para a retaliação. Contudo, optou por não fazê-lo.

Conta o periódico espanhol que Petrov pensou que um ataque à URSS não seria feito com apenas cinco bombas nucleares, e pouco mais de 20 minutos depois de terem soado os alarmes, tudo se mantinha igual, confirmando que se tinha tratado realmente de um problema técnico dos sistemas informáticos dos programas de deteção.

O discernimento de Petrov terá salvado o mundo da guerra nuclear, embora só depois da dissolução da URSS tenha sido devidamente celebrado por isso. Faleceu em 2017.

Nesse mesmo ano de 1983, em novembro, outro evento aproximou-nos da beira do penhasco. Em Moscovo corria o rumor de que os EUA se estavam a preparar para lançar um ataque nuclear à URSS.

A NATO realizava exercícios militares navais, que as autoridades soviéticas tomaram como sendo o prelúdio para uma investida nuclear contra o país. O ‘La Vanguardia’ escreve que Moscovo estava tão confiante de que um ataque iria acontecer que o Pentágono, de acordo com informações reveladas no ano passado, terá verificado que bombardeiros soviéticos terão sido postos em alerta na Alemanha oriental e teriam sido armados com mísseis nucleares para uma ação de retaliação ao esperado ataque da Aliança Atlântica.

Com esses dados, os EUA teriam de tomar as movimentações de Moscovo como um sinal de que uma ofensiva estaria para breve. Contudo, apesar da tensão, nervosismo e desconfiança, nenhum dos lados carregou no “botão nuclear”, evitando-se assim uma catástrofe.

Mesmo depois do desaparecimento da URSS, a ameaça de um confronto nuclear ainda se manteve relativamente viva.

Em janeiro de 1995, os EUA e a Noruega lançaram um satélite meteorológico, o maior até ao momento, que a dada altura se aproximou-se demasiado das fronteiras russas. De acordo com o que hoje se sabe, as autoridades de Moscovo, bem como de outros países, tinham sido avisados do lançamento do aparelho, precisamente por que se esperava que se aproximasse do território de outros Estados.

Contudo, o aviso parece não ter chegado aos sistemas de deteção russos, que o tomaram como sendo um míssil atómico que explodiria na atmosfera sobre a Rússia. Sobre o assunto, o ‘The Washington Post’ escreveu que apesar de não se saber ao certo qual terá sido a reação do então Presidente Boris Ieltsin, “esses podem ter sido alguns dos momentos mais perigoso da era nuclear”.

Depois de a defesa russa ter percebido que não se tratava de um engenho nuclear, os alarmes deixaram de soar nos corredores militares em Moscovo, e, mais uma vez, o mundo evitava uma guerra da qual poderia sobrar pouco.

No dia 29 de maio, o Embaixador da Rússia no Reino Unido contou à ‘BBC’ que não acreditava que o seu país estivesse a considerar usar bombas nucleares táticas na Ucrânia, embora já vários membros do governo e da elite política russa tivessem usado a ameaça nuclear diversas vezes.

No entanto, também no mês passado, a ‘CBC’ dava conta de que Dmitry Medvedev, que foi Presidente e também Primeiro-Ministro da Rússia, ocupando agora a vice-presidência do Conselho de Segurança do país, considerava que um confronto nuclear entre a NATO e a Rússia não estaria fora da equação, acrescentando que seria “um cenário catastrófico para todos”.

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