Mpox: Médicos do Mundo intensifica esforços para travar ressurgimento do vírus na República Democrática do Congo

Desde setembro de 2023, a República Democrática do Congo (RDCongo) enfrenta um preocupante ressurgimento de casos de Mpox, classificado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), a 14 de agosto de 2024, como uma “emergência de saúde pública de interesse internacional”. Perante a gravidade da situação, a Rede Internacional de Médicos do Mundo mobilizou-se rapidamente, lançando uma resposta de emergência para apoiar as comunidades afetadas e os sistemas de saúde locais.

Com uma estratégia que combina esforços curativos e preventivos, a organização já se encontra em várias das regiões mais afetadas do país, particularmente na província do Kivu Sul, epicentro da epidemia, segundo indica em comunicado. Esta província regista, até ao momento, 3.684 casos confirmados, segundo dados das autoridades regionais. Para responder ao surto, a Médicos do Mundo tem apoiado a formação de 20 profissionais de saúde, 65 trabalhadores comunitários e mais de 350 trabalhadores do sexo, sensibilizando simultaneamente cerca de 70 mil pessoas.

Segundo Mamadou Kaba Barry, coordenador-geral da Médicos do Mundo na RDCongo, o objetivo é claro: “Estamos extremamente preocupados, pois o Mpox afeta, em primeiro lugar, as populações mais vulneráveis. Para salvar vidas, devemos agir imediatamente, com uma campanha de vacinação e apoio aos sistemas de saúde locais. As nossas equipas estão ativamente envolvidas em sete regiões principais, onde se concentra 86% dos casos. Estamos focados na formação de profissionais de saúde, na prevenção e controlo de infeções, nos cuidados psicossociais e na sensibilização e vigilância das comunidades afetadas.”

Intervenção nas áreas mais afetadas

A Médicos do Mundo já está a operar em seis das sete regiões sanitárias mais atingidas pelo vírus, em estreita colaboração com o Gabinete Central da Região Sanitária local. A organização está a reforçar os centros de tratamento de Mpox que foram estabelecidos pelas autoridades locais, proporcionando cuidados diretos às pessoas infetadas e sensibilizando as comunidades em risco elevado de exposição ao vírus.

Além da RDCongo, a Médicos do Mundo também está ativa em países vizinhos, onde a epidemia de Mpox tem vindo a escalar rapidamente. Camarões, Burkina Faso, Nigéria e República Centro-Africana são algumas das nações onde a organização está a colaborar com os Ministérios da Saúde, desenvolvendo campanhas de sensibilização e prevenção. A rápida propagação de novos clados do vírus e a escassez de vacinas disponíveis representam grandes desafios para os sistemas de saúde já sobrecarregados destes países.

De acordo com o Centro Africano de Controlo e Prevenção de Doenças (CDC África), o continente africano registou um aumento de 160% nos casos de Mpox até ao final de julho de 2024, em comparação com o ano anterior. Este aumento corresponde a quase 19 mil novos casos e cerca de 700 mortes em 13 países africanos. Estes números demonstram uma necessidade urgente de uma ação coordenada a nível internacional.

A importância da vacinação e acesso equitativo aos cuidados

Num apelo global, a Médicos do Mundo sublinha a necessidade de garantir o acesso equitativo a vacinas, testes de rastreio e cuidados de saúde em todas as regiões afetadas, especialmente nas zonas mais remotas ou que enfrentam maiores desafios de segurança. “Ninguém deve ser excluído dos cuidados de saúde ou das campanhas de vacinação, seja por motivos de segurança, logísticos ou financeiros”, frisam os responsáveis da organização.

A Médicos do Mundo, com mais de 20 anos de experiência na RDCongo, tem estado envolvida em diversos programas de saúde, incluindo a promoção de cuidados de saúde primários, saúde sexual e reprodutiva, e saúde ambiental. Relativamente ao Mpox, as suas intervenções englobam um vasto leque de ações coordenadas, tais como a organização de comités de higiene em unidades de saúde, construção de instalações sanitárias para melhorar os padrões de higiene, e a formação de profissionais de saúde em prevenção e controlo de infeções (PCI).

Plano de ação: coordenação e prevenção

Entre as atividades já implementadas, destacam-se:

  • Coordenação: Realização de reuniões locais e técnicas de coordenação, em parceria com as autoridades de saúde regionais.
  • Apoio psicológico: Orientação de psicólogos do Hospital Geral de Referência (HGR) e apoio psicossocial aos doentes, com o objetivo de reduzir o estigma e promover a procura de cuidados de saúde.
  • Fornecimento de material de prevenção: Entrega de equipamentos de PCI essenciais às unidades de saúde.
  • Higiene: Estabelecimento de comités de higiene e construção de infraestruturas sanitárias para melhorar as condições de higiene nas zonas afetadas.
  • Formação de profissionais de saúde: Capacitação de equipas de saúde locais em práticas de PCI, bem como apoio aos processos de triagem no HGR.
  • Monitorização e vigilância: Organização de reuniões regulares para rever os alertas e respostas à epidemia, facilitando a comunicação entre as equipas de saúde e as comunidades.
  • Sensibilização comunitária: Produção e distribuição de materiais de comunicação sobre a prevenção da Mpox, organização de sessões de sensibilização para as populações em maior risco, incluindo profissionais do sexo e trabalhadores de áreas como a mineração.
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