Movimento de boicote a Trump cresce na Europa: site ajuda a escolher alternativas ao ‘made in USA’

A chegada de Donald Trump à Casa Branca – assim como as políticas agressivas dirigidas ao mundo – ‘despertaram’ na União Europeia movimentos de apoio às economias nacionais e europeias e de boicote a produtos dos Estados Unidos, relatou esta quinta-feira a revista ‘Sábado’.

No passado dia 8, foi lançado o site ‘escolho.eu’, onde são listados 179 produtos e serviços americanos “a evitar”, com 362 opções nacionais e europeias como alternativa. A ideia partiu de Maria João Nogueira e Ana Godinho, com o objetivo de fortalecer a Europa com as escolhas de consumo.

“Isto não é contra ninguém, é a favor da Europa. Falamos num grupo de Signal, por exemplo, que é americano, mas é detido por uma non profit”, salientou Maria João Nogueira. “Tenho passado dias a criar contas em sites e tenho encontrado alternativas muito boas”, acrescentou, destacando o motor de busca alemão Ecosi, que planta uma árvore por cada 50 pesquisas. O mais difícil, relatou, foi deixar a rede social ‘X’. “Fui uma das primeiras utilizadoras do Twitter em Portugal, tinha cerca de 12 mil seguidores. Assim que o Musk entrou percebi que ia passar a ser uma rede social com a qual eu não queria estar relacionada. Neste momento não participo e estou a apagar os tweets a pouco e pouco. Não é possível apagar os tweets todos de uma vez sem apagar a conta”, frisou.

“Cheguei a ter sintomas de privação. Pegava no telefone, mecanicamente, para ir ver o que se passava. Dava por mim, sem querer, à procura da app (que tinha removido). E andei uns tempos sem saber muito bem como me manter informada”, apontou.

O site ‘escolho.eu’ teve na primeira semana 80 mil visitas e Maria João e Ana receberam mais de 800 mensagens e emails com agradecimentos e contributos. Depois da homepage, os separadores com mais visitas são os dedicados à alimentação, digital e higiene pessoal/cosméticos.

“A forma como gastamos o dinheiro é uma forma de voto e é a única linguagem percetível pelos atuais interlocutores. Claro que há casos em que é mais difícil. Não temos como fugir à Visa, por exemplo, e há situações em que não conhecemos os fornecedores. Este site é muito pragmático: o que conseguimos fazer agora, com a informação acessível e de forma a que seja possível dar alternativas às pessoas.”

O boicote americano não se reduz à UE: no Canadá, há pelo menos três aplicações (Is this Canadian, Maple scan e Buy beaver) que permitem fazer a leitura dos códigos de barras e saber a origem dos produtos.

Segundo o economista António Nogueira Leite, é ainda cedo para medir o impacto deste movimento. “No caso da Tesla, e como o dono é uma pessoa muito presente, que tem interferido em áreas que não são minimamente da sua competência, percebo que possa haver uma reação e que as pessoas procurem alternativas. Se a guerra das tarifas se intensificar, talvez haja mais consumidores a ter esse tipo de ações. Eu, se estivesse a pensar trocar de carro agora, nunca escolheria um Tesla, mas uma pessoa que esteja no seu dia a dia, a tentar sobreviver, não tem tempo nem dinheiro para escolher sempre produtos portugueses ou europeus. E também não podemos confundir Trump com os CEO das empresas”, apontou.

Do Canadá à Europa, movimento de boicote aos produtos dos EUA vai crescendo: Tesla é apenas o sinal mais visível