
Motas, tendas, asas de frango, hóstias e… lingerie feminina: O que abrangem as ‘tarifas-vingança’ da UE contra os EUA?
A Comissão Europeia anunciou a possibilidade de aplicar tarifas retaliatórias sobre uma vasta gama de produtos dos Estados Unidos, em resposta à decisão da administração de Donald Trump de impor tarifas globais de 25% sobre o aço e o alumínio. A lista de produtos, que se encontra em consulta pública até 26 de março, inclui desde alimentos e bebidas até vestuário e maquinaria pesada.
A Comissão Europeia definiu uma abordagem em duas fases para as medidas de retaliação. A primeira fase, que entra em vigor a 1 de abril, cobre cerca de 8 mil milhões de euros em tarifas impostas pelos EUA. A segunda fase, prevista para meados de abril, poderá abranger mais 18 mil milhões de euros, sujeita à aprovação dos Estados-membros da União Europeia (UE). No total, estas medidas poderão atingir um valor aproximado de 26 mil milhões de euros.
A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, lamentou a escalada das tensões comerciais e sublinhou que a UE continua aberta ao diálogo. “As relações comerciais entre a União Europeia e os EUA estão entre as maiores do mundo. Trouxeram prosperidade e segurança a milhões de pessoas, tendo criado milhões de postos de trabalho nos dois lados do Atlântico”, declarou.
Von der Leyen também alertou para o impacto negativo das tarifas, afirmando que “trazer incerteza à economia e aumentar os preços tanto na Europa como nos Estados Unidos apenas prejudica consumidores e empresas”. Acrescentou que a UE agiria de forma “forte, mas proporcional” para proteger os seus interesses económicos.
Produtos abrangidos pelas tarifas europeias
A lista publicada pela Comissão Europeia inclui uma ampla variedade de bens que representam setores-chave da economia norte-americana. Entre os produtos sujeitos a tarifas estão:
- Carnes e produtos alimentares: As tarifas incidirão sobre carne de frango, em particular as asinhas de frango, além de outros produtos cárnicos e hortícolas.
- Bebidas alcoólicas: O bourbon, uma das bebidas icónicas dos EUA, está incluído na lista, juntando-se a outros produtos do setor de bebidas.
- Doces e produtos de consumo rápido: Pastilhas elásticas e hóstias de comunhão também figuram entre os bens sujeitos a tarifas.
- Produtos de tabaco e substitutos: Vaporizadores de nicotina e pensos de nicotina também estão incluídos.
- Vestuário e têxteis: Vestuário desportivo e de exterior, incluindo tendas, fazem parte da lista. Um dos produtos mais inesperados abrangidos pelas tarifas é a roupa de dormir feminina, especificamente os “négligées”.
- Equipamento de oficina e eletrodomésticos: Ferramentas de oficina e vários aparelhos domésticos estão também visados.
- Veículos e maquinaria pesada: Máquinas industriais, limpa-neves e motociclos, incluindo os da icónica marca Harley-Davidson, estão entre os produtos mais relevantes.
Estas tarifas são estratégicas e visam impactar setores chave da economia norte-americana, em particular os de estados governados por congressistas republicanos que poderiam influenciar Trump a reconsiderar a sua abordagem comercial.
Consulta pública aberta até 26 de março
A Comissão Europeia abriu um período de consulta até 26 de março para recolher opiniões de empresas e outros stakeholders afetados pelas tarifas impostas pelos EUA. Esta auscultação permitirá ajustar as medidas de retaliação para maximizar a sua eficácia económica e política.
A tensão comercial entre os EUA e a UE surge no contexto de uma nova fase da política protecionista de Trump, que já na sua primeira administração desencadeou disputas comerciais com vários parceiros internacionais. A resposta europeia sublinha a determinação da UE em defender os seus interesses económicos, ao mesmo tempo que deixa a porta aberta para uma solução negociada.
Caso não haja avanços diplomáticos, o embate tarifário poderá aprofundar-se nas próximas semanas, afetando empresas e consumidores dos dois lados do Atlântico.