Morreu Isabel II aos 96 anos, a rainha que nunca pensou em abdicar do trono
Esta quinta-feira, dia 8 de setembro, a Rainha Isabel II, com 96 anos de idade e com 70 de reinado, faleceu, no Palácio de Balmoral, na Escócia, depois de esta manhã as autoridades oficiais terem indicado que a saúde da monarca tinha piorado e que tinha sido colocado “sob supervisão médica”.
O Palácio de Buckingham acaba de informar que “a Rainha morreu tranquilamente em Balmoral esta tarde” e que “o Rei e a Rainha Consorte [Carlos e Camilla] permanecerão em Balmoral esta noite e regressarão a Londres amanhã”.
Será o Príncipe Carlos quem passará a ocupar o cargo deixado agora vago pela mãe, mas a coroação só deverá acontecer dentro de um ano, segundo avança a ‘RTP’. Poderá vir a adotar o nome de Carlos III, embora essa escolha possa ser influenciada pelo próprio.
Quem foi Isabel II, a rainha britânica que privou com 18 Primeiros-ministros, enfrentou o conturbado período do pós-II Guerra Mundial e atravessou a Guerra Fria?
A palavra abdicar é uma expressão que Isabel II considerou “quase indigna”. De acordo com a revista Vanity Fair, terá mesmo proibido que fosse usada à sua frente.
Isabel II, rainha do Reino Unido, da Grã Bretanha, Irlanda do Norte e dos seus outros territórios e reinos, Chefe da Commonwealth, foi coroada na Abadia de Westminster a 2 de Junho de 1953, aos 25 anos.
A cerimónia foi a primeira a ser transmitida pela televisão, por insistência do marido, e contra a vontade de Winston Churchill, então primeiro-ministro. Assistiram mais de oito mil convidados, três horas de duração e dezenas de milhões de libras gastos. E mais de 270 milhões de espetadores viram o momento através das imagens da BBC.
“Declaro perante todos vós que toda a minha vida seja longa ou curta será dedicada ao vosso serviço e ao serviço da nossa grande família imperial à qual todos nós pertencemos”.
Isabel tornara-se assim na monarca com o mais longo reinado na história britânica. Nasceu a 21 de Abril de 1926 em Londres e é a primeira filha do Duque e da Duquesa de York.
Com o império britânico envolvido na Guerra viveu a adolescência nestes anos dificeis e saiu com o dever reforçado. A biógrafa real Ingrid Seward autora do livro “O Discurso da Rainha” afirmou que a rainha é um símbolo de unidade.
“Nunca falou sobre os seus pontos de vista políticos, nunca falou sobre os seus pontos de vista pessoais. Está acima da política e é alguém que, neste mundo em rápida mudança, podemos ter como exemplo. É uma influência segura.”
A rainha e o marido, o príncipe Filipe, tiveram quatro filhos, sendo o princípe Carlos o primogénito. Em 1992, os casamentos de três dos filhos da rainha desmoronaram-se em público e o Castelo de Windsor ardeu. Isabel II considerou-o um ano horrível. “1992 não é um ano para o qual vá olhar com prazer.
Acabou por se tornar um annus horribilis”, disse Isabel II num discurso, referindo-se diretamente apenas ao “trágico incêndio de Windsor”. O fogo no palácio que era residência privada dos monarcas britânicos há quase mil anos causou danos no valor de 36,5 milhões de libras (42,8 milhões de euros), com as ruínas a tornarem-se um símbolo do descontrolo que se vivia na família real.
O outro momento horribilis deu-se em Abril de 2021, com a morte do marido, o príncipe Filipe Mountbatten, duque de Edimburgo e consorte da rainha Isabel II. Nascido a 10 de junho de 1921 na Grécia, no seio de duas famílias reais: a grega e a dinamarquesa.
Em 1922, a família foi expulsa da Grécia na sequência de um golpe de estado, quando Filipe ainda era criança. Aos 18 anos, ingressou na Marinha Real Britânica e em 1947 casou-se com a então princesa Isabel. Ambos têm quatro filhos, oito netos e nove bisnetos.
A palavra abdicar é uma expressão que Isabel II considerou “quase indigna”. De acordo com a revista Vanity Fair, terá mesmo proibido que fosse usada à sua frente. Ao longo do seu longo reinado privou dezenas de líderes mundiais. Por exemplo, contando com Joe Biden, já conheceu 12 presidentes dos Estados Unidos. É também a monarca mais viajada da história do Reino Unido.
Apesar de ter vido no sumptuoso Palácio de Buckingham, sempre foi vista como uma monarca humilde. Aliás, a simplicidade do seu pequeno-almoço foi sempre tão grande que o site de notícias Huffington Post foi à procura de mais detalhes. E encontrou uma entrevista, dada por McGrady, o antigo chef pessoal de Isabel II, ao jornal Telegraph, em 2012. Aqui, o chef revela ao pormenor o pequeno-almoço em Buckingham: os cereais preferidos da Rainha são corn flakes e Special K. Às vezes, coloca-lhes alperces por cima, outras vezes ameixas secas ou nozes macadamia. Tudo sempre servido num tupperware.
VISITA A PORTUGAL
Portugal recebeu-a por duas vezes: 1957 e 1985. Mas a visita que ficou na memória foi a primeira, que concentrou as atenções do país e também do estrangeiro. António Oliveira Salazar aproveitou a visita para aliviar a pressão internacional, especialmente nas Nações Unidas, onde a política colonial portuguesa era posta em causa cada vez com mais frequência.
As ruas de Lisboa, e mais tarde as do Porto, enfeitaram-se para receber a monarca e o marido. Dois dias depois, ao desembarcar em Lisboa, no Cais das Colunas, Isabel II, então com 30 anos de idade e cinco de reinado, foi recebida pelo Presidente da República, General Craveiro Lopes, e pela mulher deste, Berta, e aplaudida por uma multidão entusiasmada. A toda a largura da primeira página, o jornal Diário de Notícias titulava: “Vibrante e apoteótica recepção do povo de Lisboa à rainha Isabel II”. E continuava o relato: “Do Terreiro do Paço a Queluz, a multidão aclamou entusiasticamente a jovem soberana.”
Pelo meio, houve naturalmente tempo para o banquete no Palácio da Ajuda, para a noite de ópera em São Carlos (com apresentação do bailado Pedro e Inês, com música de Ruy Coelho e coreografia de Francis Graça) e para a audiência com Salazar, que lhe ofereceria um cavalo de raça lusitana. Isabel quis conhecer um pouco mais de Portugal além da capital, indo a cidades como Porto, Setúbal, Alcobaça e Nazaré. Um dos momentos mais surpreendentes da visita aconteceu num jantar oficial quando Isabel II começou a esfarelar pão na sopa – um hábito apenas das classes populares – e todos acabaram por imitá-la.