Moedas digitais de banco central são “futuro que está cada vez mais próximo”, diz Vítor Constâncio
“Desde há muito tempo que vivemos num mundo de moedas digitais”, aponta o ex-Governador do Banco de Portugal, esta segunda-feira, na cerimónia dos 111 anos do ISEG, em Lisboa.
Começando por explicar que ainda não existe a emissão de moeda digital por parte de bancos centrais, mas que essa realidade estará no futuro , explica que durante algum tempo os bancos centrais se afastaram do universo das moedas digitais devido a preocupações com o seu potencial para causar instabilidade financeira e monetária. Contudo, sublinha que hoje é relativamente consensual que os riscos acarretados pelas novas formas de moeda serão menores do que fora inicialmente previsto. Reconhece, contudo, que há naturalmente riscos relativos à moeda digital emitida por banco central, sendo um deles a sua utilização em transações ilegais.
Para desempenhar as suas funções, a moeda digital de banco central deve ter estabilidade relativamente ao seu poder de compra e beneficiar de uma uniformidade do valor no território em que circula, pois só assim será possível “garantir uma soberania monetária”.
Vítor Constâncio afirma que as moedas e as notas estão a desaparecer, dando o exemplo da Suécia, e que esse fenómeno chegará “inevitavelmente” à Zona Euro.
O economista aponta que a emissão de tokens não aumentará o volume de moeda em circulação, mas que funcionará como um substituto de correspondência direta, ou seja, a um token corresponde a uma moeda ou nota em formato físico. Argumenta também que uma das vantagens da moeda digital de banco central é oferecer aos cidadãos a possibilidade de fazerem pagamentos de forma quase tão anónima quanto a utilização de notas e moedas.
Sobre o mercado de criptomoedas emitidas por entidades privadas, refere que a Bitcoin “não é favorável a ser moeda de transações”, e explica que as stablecoins, que tabelam o seu valor maioritariamente face ao dólar norte-americano, podem gerar instabilidade.
Quanto às transferências de tokens de bancos centrais entre países, tal poderá demorar ainda muito tempo, salienta, pois é preciso criar estruturas de articulação entre as várias unidades monetárias.
“É praticamente inevitável que os bancos centrais venham a emitir moeda digital em forma de tokens”, sentencia Vítor Constâncio.