Ministro israelita diz que “chegou a hora de anexar” territórios da Cisjordânia, com vitória de Trump nos EUA

O ministro das Finanças de Israel, Bezalel Smotrich, celebrou a recente vitória eleitoral de Donald Trump, afirmando que “chegou o momento” de estender a soberania israelita sobre partes ocupadas da Cisjordânia. Em declarações feitas numa conferência do seu partido, Smotrich sublinhou a “oportunidade importante” que o retorno de Trump à presidência dos EUA representa para o Estado de Israel. Segundo ele, esta vitória abre portas para avançar com o plano de anexação dos colonatos na Cisjordânia, um projeto que chegou a estar próximo de concretização durante o primeiro mandato de Trump.

“A vitória de Trump traz uma oportunidade importante para o Estado de Israel”, declarou Smotrich aos seus apoiantes, de acordo com declarações divulgadas pelo seu porta-voz. “Durante o primeiro mandato de Trump, estivemos à beira de aplicar a soberania sobre os colonatos na Cisjordânia, e agora chegou o momento de tornar isso realidade.”

Smotrich revelou ainda que deu instruções ao Ministério da Defesa para que o departamento de administração dos colonatos, bem como a Administração Civil do Exército de Israel na Cisjordânia, preparem os planos necessários para implementar esta medida. Desde o final de 2022, o governo de coligação liderado pelo primeiro-ministro Benjamin Netanyahu tem intensificado a presença israelita na Cisjordânia, uma região onde vivem cerca de três milhões de palestinianos ao lado de mais de 500 mil colonos israelitas.

A administração de Netanyahu aprovou recentemente várias medidas para expandir a construção de colonatos, proceder a apropriações estratégicas de terras e intensificar a demolição de propriedades palestinianas. Além disso, tem aumentado o apoio do estado a postos avançados de colonos, muitos deles construídos ilegalmente. A violência de colonos judeus contra residentes palestinianos também tem aumentado, frequentemente com a presença de soldados ou polícias israelitas nas proximidades.

A recente declaração de Smotrich parece consolidar mudanças que começaram a ser implementadas em maio, quando o Exército de Israel decidiu criar um novo cargo de “vice-diretor” dentro da Administração Civil, a entidade que governa a Cisjordânia. Este cargo foi atribuído a Hillel Roth, um colaborador próximo de Smotrich e conhecido defensor dos colonatos.

“Avançando, pretendo liderar uma decisão do governo que declare que o Estado de Israel trabalhará com a nova administração de Trump e com a comunidade internacional para aplicar a soberania e procurar o reconhecimento americano”, afirmou Smotrich.

Implicações diplomáticas e resposta americana
A administração de Joe Biden tem insistido que qualquer solução diplomática para o conflito em Gaza deve incluir um caminho para a criação de um Estado palestiniano independente. No entanto, grupos de direitos humanos alertam que a anexação total da Cisjordânia representaria o fim dessa ambição, impedindo a viabilidade de um Estado palestiniano.

As declarações de Smotrich destacam a relação entre o resultado eleitoral nos EUA e a estratégia israelita na Cisjordânia. “Após anos em que a atual administração, infelizmente, escolheu interferir na democracia israelita e recusou-se a cooperar pessoalmente comigo como ministro das Finanças de Israel, a vitória de Trump traz também uma oportunidade importante”, afirmou Smotrich, referindo-se à administração Biden. Acrescentou que “2025 é o ano da soberania na Judeia e Samaria”, referindo-se à Cisjordânia pelos nomes bíblicos.

A defesa de Smotrich para uma mudança de política representa uma aceleração na agenda de anexação da Cisjordânia, um movimento que pode redefinir o futuro das relações entre Israel e a Palestina. Ao enfatizar o apoio de Trump, Smotrich sinaliza que a nova administração americana poderá facilitar os planos de Israel, afastando-se da política de dois Estados defendida por Biden.