MI6: Blaise Metreweli torna-se a primeira mulher a liderar os serviços secretos do Reino Unido

Pela primeira vez em mais de um século de existência, o serviço de inteligência estrangeiro britânico, o MI6, vai ser liderado por uma mulher. Blaise Metreweli foi nomeada para o cargo, anunciou o primeiro-ministro do Reino Unido, Keir Starmer, numa decisão que classificou como “histórica”. A nova chefe dos espiões britânicos assumirá funções no outono, sucedendo a Richard Moore, que termina um mandato de cinco anos.

Blaise Metreweli, de 47 anos, é uma figura de peso dentro da comunidade de inteligência britânica. Ingressou no MI6 em 1999 e, ao longo de mais de duas décadas, desempenhou diversos cargos de chefia, tanto no próprio serviço secreto externo como no MI5, a agência responsável pela segurança interna e contra-espionagem. Atualmente, Metreweli exerce funções como diretora-geral da secção Q do MI6, unidade encarregada de tecnologia e inovação — um dos sectores mais sensíveis da espionagem moderna.

A nomeação marca um momento simbólico na história do MI6, que desde a sua fundação em 1909 nunca tinha tido uma mulher no comando. Até agora, a única líder feminina do serviço de espiões britânico existia apenas no imaginário cinematográfico: há três décadas, a atriz Judi Dench deu vida à personagem “M”, chefe do MI6, na saga James Bond, estreando-se no filme GoldenEye (1995), realizado por Martin Campbell.

O anúncio da nomeação foi feito por Keir Starmer a partir do Canadá, onde participa na cimeira do G7. O primeiro-ministro sublinhou que a escolha de Metreweli ocorre “num momento em que o trabalho dos serviços de inteligência nunca foi tão vital”. Starmer alertou para os perigos crescentes que o Reino Unido enfrenta, desde “agressores que enviam navios espiões para águas britânicas” até “hackers com sofisticados planos cibernéticos para perturbar os serviços públicos”.

Blaise Metreweli reagiu ao anúncio com um discurso de gratidão e sentido de missão. “Sinto-me orgulhosa e honrada por ter sido convidada a assumir esta função. O MI6 desempenha um papel vital na proteção do povo britânico e na promoção dos interesses do Reino Unido no exterior. Estou ansiosa por continuar esse trabalho ao lado dos corajosos oficiais e agentes do MI6 e dos nossos muitos parceiros internacionais”, declarou.

O primeiro-ministro britânico aproveitou ainda para agradecer o contributo do atual chefe do MI6, Richard Moore, destacando a sua liderança ao longo dos últimos cinco anos. Sobre o futuro, mostrou-se confiante: “Tenho a certeza que Blaise continuará a exercer a excelente liderança necessária para defender o nosso país”.

Entre os maiores desafios que Metreweli terá pela frente destacam-se as relações tensas com a Rússia, a China e o Irão. As agências de espionagem britânicas têm acusado Moscovo de estar a promover uma vasta campanha de sabotagem em solo europeu, destinada a desencorajar o apoio militar e político à Ucrânia, na sequência da invasão russa. A vigilância sobre as atividades de espionagem chinesas e o acompanhamento dos desenvolvimentos no Médio Oriente estarão igualmente entre as prioridades do novo mandato.

Por tradição, o chefe do MI6, conhecido internamente apenas como “C”, é o único agente da organização cuja identidade é tornada pública, sendo também a face mais visível do serviço, com aparições ocasionais em conferências e comunicações nas redes sociais.

A nomeação de Metreweli é vista como um sinal de modernização e de reforço da diversidade no seio dos serviços secretos britânicos, num contexto internacional marcado por ameaças híbridas, guerras de informação e o crescente peso das tecnologias emergentes na segurança global.