Mercado em máximos históricos. E agora? Atenção às próximas semanas
Precisamente cinco meses após o mínimo do ‘bear market’ em março deste ano, o S&P 500 testou na semana passada os máximos históricos pré-pandémico que tinha feito a 19 de fevereiro.
Embora o ritmo de melhoria económica esteja a abrandar, os dados económicos continuam a mostrar um progresso constante. Os pedidos semanais de subsídio de desemprego que haviam caído para menos de um milhão na semana passada, pela primeira vez desde março, voltaram a ultrapassar esta barreira psicológica esta semana e os PMIs industrial e de serviços do mês de agosto também superaram as expectativas. Apesar do aumento da inflação os dados mistos desta semana não foram suficientes para manter a alta de dois meses nas yields dos títulos do tesouro americano. Esta semana as minutas da FOMC sugeriram uma revisão da estrutura das políticas até agora aplicadas, mas não estabeleceram uma data. Para além disso, as minutas também evidenciaram que alguns bancos centrais se opõem à ideia de controlo da curva da yield. A falta de progresso nas negociações entre democratas e republicanos para outro pacote de estímulo fiscal à economia representa um risco crescente de curto prazo, mas os fundamentos permanecem razoavelmente favoráveis. O mercado mantém-se em alta com os investidores a acreditarem que se irá chegar a um entendimento em breve.
Mercado em máximos. E agora?
Depois da subida de 50% dos mínimos de março, as ações estão agora com uma valorização anual de quase 5%. Apesar dos investidores estarem satisfeitos com este comportamento do mercado, esta subida repentina nos índices para os máximos históricos, ou mesmo para novos máximos no caso do Nasdaq, levanta algumas preocupações que deverão continuar a pesar nas próximas semanas:
A economia está longe de estar a 100%. Como se justifica então que os mercados tenham subido tão rápido? A segunda recuperação mais rápida da história – se o mercado ultrapassar os máximos de 19 de fevereiro, será a segunda recuperação mais rápida do último século, só atrás do rebound ocorrido em 1982. Isto reflete de alguma forma a situação única de encerramento total das economias, o que levou à queda mais rápida do mercado alguma vez registadas desde um máximo e da reabertura das economias passado poucas semanas na maior parte dos países.
Os mercados representam a expectativa futura dos investidores – as economias ainda estão muito longe de recuperar os níveis do PIB alcançados antes da pandemia. Mas enquanto os dados macroeconómicos representam dados passados, o comportamento do mercado reflete a expectativa futura em tempo real.
Os investidores continuam à espera duma recuperação económica contínua e que os lucros das empresas também vão aumentando ao longo deste ano e de 2021.
Bastante ajuda política – as diversas ajudas têm tido um papel fundamental na recuperação. Os pacotes de alívio fiscal apresentados pelo congresso norte americano e pelos governos um pouco por todo o mundo foram bastante eficientes a colmatar a falta de rendimento disponível das famílias que foram atingidas pelo desemprego. Além disso os bancos centrais implementaram medidas facilististas sem precedentes (cortes nas taxas de juro, facilidades de empréstimos, compras de ativos, etc) e frisaram que este ambiente facilitista irá perdurar durante algum tempo.
Estará o mercado suscetível a uma correção? Reabertura – a reabertura das economias deverá provocar um rebound no PIB das várias economias já no terceiro trimestre deste ano mas o processo deverá ser muito mais longo do que o mercado já descontou e deverá arrastar-se nos próximos anos. Apesar dos pedidos semanais de subsídio de desemprego terem vindo a diminuir, também deverá levar algum tempo até a taxa de desemprego cair bem abaixo dos 10%.
Inflação – a última leitura mostra que a inflação core subiu desde os mínimos da pandemia. Os preços do consumidor subiram 1,6% yoy e 1,2% nos últimos meses. Estas leituras apesar de animadores por mostrarem que o consumo está a regressar, mantém-se abaixo do target da Fed e deverão assim continuar por algum tempo. No entanto as várias cadeias de distribuição que foram interrompidas durante o período de confinamento deverão começar a ser restabelecidas a pouco e pouco o que deverá levar a inflação a aumentar o que por sua vez poderá ter implicações na vontade dos bancos centrais de manterem as políticas monetárias atuais.
Política – as atuais negociações do congresso representam um risco de curto prazo para o mercado e que poderá trazer volatilidade enquanto não se chegar a um compromisso. No entanto, mesmo que se chegue a um compromisso nos próximos dias, haverá sempre um corte nas ajudas que são dadas, recordando que cada desempregado recebia um cheque de 600 dólares semanais no anterior pacote que expirou no final do mês passado. Não deixa de ser importante que se chegue a um entendimento nesse sentido para continuar a ajudar ao consumo enquanto a economia vai reabrindo. Olhando um pouco mais para a frente as eleições presidenciais irão trazer mais incerteza e nervosismo para os mercados.
O que esperar desta semana?
Com a earnings season a chegar ao fim, os investidores deverão focar-se no calendário macroeconómico. Esta semana começa bastante calma na segunda-feira e terça-feira, mas vai ficando mais agitada com o passar dos dias.
Na terça-feira será divulgado na Alemanha o PIB do segundo trimestre e o Ifo, indicador de clima empresarial referente ao mês de agosto. Da parte da tarde teremos o índice de confiança do consumidor nos EUA apurado pela Conference Board e as vendas de novas casas referentes ao mês de julho e terminamos o dia com a balança comercial referente a julho na Nova Zelândia.
Na quarta-feira teremos as encomendas de bens duráveis referentes a julho, os inventários de petróleo e o início do simpósio de Jackson Hole, que pela primeira vez em quase 40 anos, não será em Jackson Hole mas sim por videoconferência devido à pandemia.
Quinta-feira ficamos a conhecer os PIBs do segundo trimestre da primeiras e segunda maiores economias do mundo, os pedidos semanais de subsídio de desemprego nos Estados Unidos, as vendas de imóveis pendentes em julho nos EUA e declarações de Jerome Powell.
Sexta-feira terminamos com as despesas de consumo pessoal dos americanos em julho, as perspectivas de inflação e sentimento do consumidor apurados pela Universidade de Michigan e o PIB do segundo trimestre no Canadá.
*Nuno Mello, Analista XTB