Medina diz que PS deve viabilizar Governo da AD, com condições. Poiares Maduro alerta para riscos da aproximação do Chega ao arco de governação

O resultado das eleições legislativas, realizadas no passado domingo, ajudou a clarificar ligeiramente o cenário político em Portugal: Fernando Medina e Miguel Poiares Maduro, ex-ministros do PS e do PSD, respetivamente, alertaram, na rádio ‘Renascença’, que é “necessária” uma reflexão do resultado “paradoxal” das eleições.

O ex-ministro das Finanças de António Costa foi claro: o PS “está no momento mais difícil” depois de ter obtido “o pior resultado”. No entanto, defendeu, o partido deve viabilizar o Governo da AD, embora com condições. “Se na relação com a extrema-direita ficar claro que Luís Montenegro a quer combater, se a Iniciativa Liberal não estiver na equação e se houver um compromisso de diálogo permanente com o PS, o partido não deve inviabilizar o Governo”, apontou, garantindo a necessidade de comunicação permanente entre as duas forças políticas. “Para dançar o tango são precisos dois”, reforçou.

Miguel Poiares Maduro alertou, por seu turno, dos perigos de o Chega se aproximar do arco da governação, salientando que há quem defenda que a melhor forma de travar as forças populistas “é trazê-las” para o Governo para “tentar normalizar” com um “abraço de urso”. “O Chega pode por um lado assumir a credibilidade de ser força de Governo e continuar a fazer política de separação o que levaria ao Governo a ter ainda menos tempo”, defendeu.

No entanto, é a “insegurança interna” do PS, após a demissão de Pedro Nuno Santos, que pode ajudar a AD, defendeu Poiares Maduro. “Os principais partidos políticos e o Presidente da República não devem pensar só na conjuntura, mas em termos estruturais para assegurar a viabilidade” do regime democrático, num “sistema de moderação” e em que a “alternância poderá ocorrer entre partidos democráticos do sistema”.

Assim, um entendimento entre PS e AD “é possível”, assim os dois partidos assumam “compromissos importantes para ajudar a resolver os problemas colocados pelo Chega ao regime, mantendo a divergência política”. Porém, acrescentou Fernando Medina, a saída de Pedro Nuno Santos abre “espaço para a reflexão”. “Temos de ter tempo de reflexão e respeito pelo secretário-geral em funções pela campanha dura e resultado muito doloroso. Não me irei pronunciar nos próximos dias, creio que ainda não é o tempo. No dia a seguir às eleições, ainda há muita coisa a digerir”, concluiu.