Medicamentos usados para tratar a Covid-19 podem estar a contaminar o ambiente e a ameaçar a saúde humana, alertam cientistas

Uma investigação realizada por cientistas da Universidade do País Basco que se debruça sobre a primeira vaga da pandemia de Covid-19, entre abril e julho de 2020, revela que foi detetada estações de águas residuais a presença de fármacos usado em pacientes infetados com o novo coronavírus.

Este estudo, publicado na revista ‘Science of The Total Environment’, é o primeiro a nível mundial que analisa o impacto da hidroxicloroquina no meio ambiente, e o segundo que estuda também os impactos do lopinavir. Uma das ETAR abrangidas pelo estudo é a de Crispijana, em Espanha, que serve a população de Vitoria-Gasteiz, uma das mais afetadas pela pandemia nesse país.

“Para a maioria dos fármacos mais relevantes utilizados na primeira vaga da pandemia de SARS-CoV-2 em Vitoria-Gasteiz, a informação sobre os seus possíveis efeitos nocivos no meio ambiente é escassa”, aponta Saioa Domingo Echaburu, responsável pelo estudo, citada pelo ‘El Mundo’.

“Tendo em conta as concentrações ambientais medidas no estudo, estimou-se um risco ecotoxicológico moderado quanto à azitromicina e baixo para a hidroxicloroquina e lopinavir-ritonavir”, explica.

O diretor da Universidade do País Basco, Gorka Orive, refere que, apesar de a informação sobre os impactos ambientas da cloroquina ser reduzida, sabe-se que esse medicamento provoca níveis elevados de toxicidade aguda em populações de peixes, de algas e de crustáceos.

Acrescenta que os dados existentes permitem estimar que a hidroxicloroquina é ligeiramente menos tóxica do que a cloroquina para os organismos aquáticos.

Entre 28 de abril e 13 de julho de 2020, foram recolhidas 16 amostras de águas residuais que entram nas estações de tratamento (afluentes) e de águas residuais que saem dessas instalações depois do tratamento em direção a cursos de água (efluentes), como rios.

Nos afluentes, foi identificada a presença de ritonavir e, embora em menor quantidade, de lopinavir. Por outro lado, os efluentes foram detetadas a hidroxicloroquina e a azitromicina.

Orive alerta que apesar de não se terem detetados outros fármacos nas águas residuais não significa que não estejam presentes.

Durante a primeira vaga da pandemia, verificou-se o aumento significativo do uso de medicamentos antivirais e de substâncias para efeitos de sedação, com uma utilização 25 vezes superior de cisatracúrio e 20 vezes de lopinavir-ritonavir, face ao período pré-pandemia.

Uma outra conclusão deste estudo é que a azitromicina é particularmente tóxica para as cianobactérias, com Orive a destacar que esses organismos são “especialmente sensíveis aos efeitos dos antibióticos”.

Como é que a contaminação das águas pelos fármacos anti-Covid-19 podem afetar a saúde humana? Os especialistas apontam que os riscos se prendem com o fenómeno de bioacumulação, em que as substâncias se vão concentrando nos organismos vivos e podem passar a toda a cadeia alimentar, chegando às populações humanas.

Contudo, ainda não existem certezas de que exista essa bioacumulação, pelo que os cientistas argumentam que é preciso investigar mais aprofundadamente os efeitos dos fármacos nos corpos de água, e nos organismos que neles habitam, para se poder perceber melhor se realmente existem ameaças à saúde pública e qual o nível de perigo.

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