Medicamento comum pode estender fertilidade das mulheres em vários anos, revela investigação

Com o aumento do número de pessoas a adiar a decisão de ter filhos, surge uma nova esperança na área da medicina reprodutiva. Estudos indicam que cerca de um terço dos casais enfrenta dificuldades para engravidar quando a parceira feminina ultrapassa os 35 anos. Isto ocorre porque a fertilidade feminina começa a declinar significativamente a partir dessa idade.

Contudo, um ensaio clínico em curso sugere que a rapamicina, um fármaco tradicionalmente utilizado para prevenir a rejeição de órgãos transplantados, pode potencialmente alargar o período fértil das mulheres em até cinco anos. Estes dados baseiam-se nas comunicações preliminares de um estudo piloto ainda não revisado por pares.

Enquanto não é possível afirmar com certeza se a rapamicina poderá vir a revolucionar os tratamentos de fertilidade, os primeiros resultados geraram uma dose de otimismo. O estudo piloto foi conduzido com um número reduzido de participantes, e os resultados definitivos só estarão disponíveis após a conclusão de um ensaio clínico que deverá demorar cerca de dois anos.

O Papel da Rapamicina na Fertilidade

A rapamicina é um composto bacteriano que tem mostrado prolongar a sobrevivência celular em ambientes laboratoriais. Usada regularmente em pacientes de transplante para suprimir o sistema imunológico e prevenir a rejeição do órgão transplantado, a rapamicina também é empregada no tratamento de condições vasculares, como tumores, devido à sua capacidade de desacelerar o crescimento celular.

O crescente conjunto de evidências científicas, assinala Stéphane Berneau, da Universidade de Central Lancashire demonstra que a rapamicina pode ter benefícios no processo de envelhecimento, incluindo na fertilidade. Estudos com roedores mostraram que a administração diária de rapamicina pode retardar a perda de massa muscular associada à idade e aumentar a longevidade dos animais em até 10%.

No que diz respeito à fertilidade, a rapamicina demonstrou, em pesquisas com roedores, a capacidade de atrasar o envelhecimento ovariano e a menopausa. Ratas mais velhas alimentadas com rapamicina apresentaram um aumento na reserva de folículos primordiais – os quais são responsáveis pela fertilidade.

A Investigação em Humanos

Para avaliar se a rapamicina pode ter um efeito semelhante em humanos, uma equipa de investigadores recrutou 50 mulheres entre 35 e 45 anos, em fase perimenopáusica, para um estudo piloto. Durante três meses, as participantes receberam uma dose semanal de rapamicina ou um placebo. A reserva ovariana foi monitorizada através de ultrassonografias transvaginais e análises de sangue para detetar hormonas ovarianas.

Os investigadores afirmam que os resultados preliminares foram muito encorajadores, sugerindo que a rapamicina pode diminuir o envelhecimento ovariano em 20% sem efeitos secundários significativos. Caso se confirme que a rapamicina possa proporcionar até cinco anos adicionais de fertilidade, isto poderá ter um impacto significativo na vida reprodutiva das mulheres.

O efeito positivo da rapamicina pode dever-se à restrição do número de folículos primordiais recrutados e ativados a cada ciclo menstrual. As mulheres que tomaram rapamicina recrutaram apenas 15 folículos por ciclo, comparados com 50 nas mulheres de idade similar que não tomaram o medicamento. Este recrutamento reduzido pode contribuir para a preservação da reserva ovariana.

Perspectivas Futuras e Impacto

Embora a amostra do estudo inicial tenha sido pequena, os resultados promissores permitem que a equipa de investigação avance para a próxima fase do ensaio, que implicará o recrutamento de 1.000 mulheres. Se os resultados forem confirmados em estudos futuros, a rapamicina poderá representar um avanço significativo para mulheres com reserva ovariana reduzida e aquelas que desejam prolongar a sua fertilidade.

Além disso, este estudo destaca o potencial da reorientação de medicamentos existentes para tratar condições relacionadas com a saúde e bem-estar das mulheres. A Universidade de Central Lancashire, onde os investigadores estão baseados, também está a explorar a possibilidade de repurposing de medicamentos para diabetes para melhorar o útero e facilitar a implantação de embriões, além de investigar alvos para o tratamento do cancro do ovário.

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