
Mais de metade das famílias com necessidades de cuidados de saúde e apoio domiciliário sem acesso a serviços profissionais pagos, revela INE
Um estudo do Instituto Nacional de Estatística (INE) revelou que, em 2024, apenas 48,3% dos agregados familiares que necessitavam de cuidados de saúde e apoio domiciliário conseguiram aceder a serviços profissionais pagos. A principal razão para a falta de acesso foi a incapacidade financeira, afetando mais de metade dos casos.
De acordo com o Inquérito às Condições de Vida e Rendimento (ICOR), realizado pelo INE, 6,1% dos agregados familiares em Portugal, o equivalente a cerca de 272 mil lares, tinham pelo menos um membro a necessitar de serviços de cuidados de saúde e apoio domiciliário devido a doença física ou mental prolongada, incapacidade ou idade avançada. Esta necessidade era particularmente elevada entre famílias com pelo menos um idoso, representando 81,5% dos casos.
No entanto, apenas 48,3% desses agregados conseguiram recorrer a serviços profissionais pagos. Para os que tiveram acesso, 48,5% asseguraram o pagamento integral dos serviços, enquanto 28,1% tiveram apoio parcial. Já 23,4% dos agregados contaram com um regime de proteção social ou seguro de saúde para cobrir os custos.
Entre as famílias que pagaram parcial ou totalmente pelos serviços, 68,7% relataram dificuldades financeiras para suportar as despesas, revelando o peso significativo destes custos no orçamento familiar.
Incapacidade financeira foi a principal barreira ao acesso
Para os 51,7% dos agregados que não conseguiram recorrer a serviços profissionais remunerados, a principal razão foi a falta de capacidade económica, apontada por 55,9% dos casos. Além disso, 17,5% das famílias indicaram que a indisponibilidade dos serviços foi um obstáculo ao acesso.
A situação revelou-se ainda mais difícil para as famílias em risco de pobreza, onde apenas 37,7% tiveram acesso a serviços de cuidados pagos. Dentro deste grupo, 62,7% não conseguiram suprir as suas necessidades através de profissionais remunerados.
Áreas rurais com mais necessidades, mas maior acesso a serviços
O estudo revelou ainda diferenças significativas entre as zonas urbanas e rurais. A necessidade de cuidados de saúde e apoio domiciliário era mais elevada nas áreas predominantemente rurais (7,8% dos agregados) do que nas zonas mediamente urbanas (5,9%) e predominantemente urbanas (5,4%).
Curiosamente, o acesso a serviços pagos foi superior nas zonas rurais, com 53,5% dos agregados a conseguirem recorrer a apoio profissional, face a 46,2% nas áreas urbanas e 45,6% nas zonas mediamente urbanas.
Cuidados formais de acompanhamento infantil: insuficiência por razões financeiras
O inquérito do INE analisou também a situação dos cuidados formais de acompanhamento de crianças até aos 12 anos. Em 2024, 94,7% das famílias consideravam que as necessidades das crianças estavam satisfeitas, incluindo aquelas que não viam necessidade de cuidados formais para além do tempo escolar. No entanto, 5,3% das crianças necessitavam de mais cuidados formais, sendo a incapacidade de pagamento o principal entrave, afetando 46,9% das famílias.
Do total de crianças até aos 12 anos, 49,5% estavam inseridas em cuidados formais de acompanhamento, como creches, amas certificadas, centros de dia ou atividades de tempos livres. Destes, 59,5% tinham os custos parcialmente ou totalmente suportados pelos pais, enquanto 40,5% beneficiavam de serviços gratuitos.
Entre as crianças em risco de pobreza, apenas 39,3% tinham acesso a cuidados formais, mas, dentro desse grupo, a proporção de acesso a serviços gratuitos era maior (50,9%).
Dificuldades no pagamento de serviços de acompanhamento infantil
Cerca de 45,2% das famílias que pagavam serviços de acompanhamento infantil indicaram dificuldades em suportar os custos. As dificuldades eram mais evidentes nas áreas urbanas (48,6% das famílias) do que nas zonas mediamente urbanas (42,4%) e rurais (39,1%).
Além disso, a taxa de acesso a cuidados pagos variava conforme o grau de urbanização. Em áreas predominantemente urbanas, 63,4% das crianças que recebiam acompanhamento formal tinham serviços pagos pelos pais. Nas zonas mediamente urbanas, essa percentagem era de 60,1%, enquanto nas áreas rurais descia para 48,3%.
O estudo abordou também a utilização de transportes públicos em Portugal. Em 2024, 32,2% da população com 16 ou mais anos utilizou transportes públicos nos 12 meses anteriores à entrevista. Entre estes, 17,6% faziam-no diariamente ou pelo menos uma vez por semana.