Macron pondera proibir uso do véu islâmico a menores de 15 anos perante “ameaça” do avanço do islamismo radical em França

O presidente francês, Emmanuel Macron, está a considerar um conjunto de medidas restritivas para combater o que o Governo classifica como uma “ameaça à coesão social” provocada pelo avanço do islamismo radical no país, em particular da organização Irmãos Muçulmanos. Entre as propostas em estudo encontra-se a proibição do uso do véu islâmico por menores de 15 anos em todos os espaços públicos.

A informação foi avançada esta quinta-feira após uma reunião do Conselho de Segurança Nacional, órgão normalmente reservado a matérias de defesa e terrorismo, que teve como ponto central a análise de um relatório sobre a presença crescente dos Irmãos Muçulmanos nas estruturas sociais francesas.

De acordo com o documento apresentado ao presidente, os Irmãos Muçulmanos — organização islamista fundada no Egito nos anos 1920 e financiada atualmente por Catar e Arábia Saudita — estão a promover “uma ofensiva organizada para desafiar os valores da República”, substituindo, em algumas áreas, as instituições oficiais do Estado. O relatório considera esta presença uma “ameaça direta” à ordem republicana.

Face à gravidade das conclusões, Macron solicitou ao Governo a apresentação de novas propostas para travar o que descreve como o “islamismo mais radical”. “Dada a importância do assunto e a gravidade dos factos estabelecidos, o Presidente pediu ao Governo novas propostas para conter o islamismo mais radical, incarnado nos Irmãos Muçulmanos”, referiu o Palácio do Eliseu em comunicado oficial.

Medidas em estudo: véu, mesquitas e vigilância
Entre as medidas em discussão está a proibição do uso do véu islâmico por jovens até aos 15 anos, uma proposta inicialmente apresentada por Gabriel Attal, líder do grupo parlamentar do partido presidencialista na Assembleia Nacional, e que tem recebido apoio dentro da maioria governamental. A ideia é impedir o uso do hijab por menores em todos os espaços públicos, numa tentativa de travar o que o Governo vê como uma normalização precoce de práticas religiosas associadas ao islamismo radical.

Outras propostas em análise incluem o encerramento de locais de culto classificados como “radicais”, maior controlo sobre as fontes de financiamento estrangeiras — particularmente provenientes de países do Golfo — e o reforço da formação de funcionários públicos e eleitos locais para detetarem e combaterem esta ideologia.

O ministro do Interior, Bruno Retailleau, defendeu publicamente uma resposta firme, afirmando que os Irmãos Muçulmanos procuram “levar toda a sociedade francesa para a sharia, que é incompatível com os princípios do país”. Retailleau classificou o grupo como “uma ameaça direta à República”.

De acordo com o relatório, os Irmãos Muçulmanos têm atualmente influência em 139 locais de culto em França, além de outros 55 espaços considerados próximos da sua ideologia — o que representa cerca de 7% do total de locais de oração muçulmanos no país.

Reações políticas e sociais
A proposta de proibir o uso do véu a menores está já a gerar reações polarizadas. A extrema-direita, representada pela família política de Marine Le Pen, exige medidas ainda mais duras, incluindo a dissolução imediata de associações ligadas ao movimento islamista. Já à esquerda, o líder do partido França Insubmissa, Jean-Luc Mélenchon, acusou o Governo de Macron de “abraçar as teses da extrema-direita” e de “desencadear uma cruel inquisição”.

Por sua vez, a associação Muçulmanos de França rejeitou as acusações que lhe foram dirigidas, considerando-as “infundadas” e negando qualquer envolvimento num “projeto político estrangeiro”.

Nos próximos dias, os vários ministérios deverão apresentar as suas propostas detalhadas para reforçar o combate ao islamismo radical. A questão promete continuar a dominar o debate público e político em França, num momento em que a tensão social e identitária continua elevada.