Legislativas: Esquerda perde mais de 600 mil votos num ano (e mais de metade são do PS)
Entre as eleições legislativas de 10 de março de 2024 e as de 18 de maio de 2025, os partidos da esquerda portuguesa — incluindo o PAN — sofreram uma quebra significativa no apoio do eleitorado, perdendo um total de 606.834 votos. Segundo os dados divulgados pelo Ministério da Administração Interna, com 99,23% dos votos já apurados, esta quebra foi especialmente acentuada no Partido Socialista, que perdeu 417.978 votos num único ano.
A pesada derrota dos socialistas levou o secretário-geral Pedro Nuno Santos a apresentar a demissão. Depois de um ano a liderar a oposição e após sucessivas dificuldades em reverter a erosão de confiança no eleitorado, o PS passa de 2.315.093 votos em 2024 para apenas 1.897.115 em 2025.
A segunda maior quebra aconteceu no Bloco de Esquerda. A formação liderada por Mariana Mortágua perdeu 163.103 votos em comparação com as eleições do ano passado. Este resultado traduz-se numa perda expressiva de representação parlamentar: o Bloco deixou de ter grupo parlamentar e apenas conseguiu eleger a própria coordenadora nacional, tornando-se num partido de representação unipessoal na nova legislatura.
A CDU, coligação composta pelo PCP e pelos Verdes, também viu o seu peso eleitoral encolher. Perdeu 24.493 votos — uma quebra de quase 12% — e com isso reduziu para três o número de deputados no Parlamento. Paulo Raimundo, secretário-geral dos comunistas, continua a enfrentar dificuldades em travar a tendência de declínio eleitoral da coligação.
Já o PAN, embora tenha perdido 45.585 votos face às eleições anteriores, conseguiu manter-se na Assembleia da República, preservando assim a sua representação parlamentar.
Livre foi o único partido de esquerda a crescer
Num panorama adverso para a esquerda, apenas o Livre conseguiu conquistar mais eleitores. O partido liderado por Rui Tavares e Isabel Mendes Lopes somou mais 40.464 votos do que em 2024, alcançando um total de 250.651 votos nesta eleição. Com este resultado, o Livre consolida-se como a quinta força política nacional e reforça significativamente a sua presença na Assembleia da República com seis deputados eleitos.
Este crescimento acontece num contexto de fragmentação do voto à esquerda e pode ser interpretado como um sinal de procura por novas alternativas no campo progressista, após o desgaste acumulado de forças como o PS, o BE e a CDU.
Apesar de os dados estarem praticamente fechados, o Ministério da Administração Interna indica que ainda faltam apurar os resultados de 24 consulados, o que representa 0,77% dos votos totais. No entanto, dificilmente esses votos alterarão de forma substancial o retrato geral destas legislativas, marcado por um recuo expressivo da esquerda tradicional e pelo crescimento de formações emergentes como o Livre.