Legislativas: André Ventura surpreende apoiantes e aparece na Praça do Município em Lisboa após ter estado no hospital

Apesar de ter anunciado publicamente que não marcaria presença no último dia da campanha eleitoral devido a problemas de saúde, André Ventura apareceu esta sexta-feira na Praça do Município, em Lisboa, para o encerramento da campanha do Chega. Visivelmente debilitado e com pensos nas mãos, pulsos e antebraços, o líder do partido emocionou-se durante o discurso e acabou por abandonar o local em lágrimas.

No palco, Ventura começou por reconhecer o esforço de ali estar, contrariando as recomendações médicas. “Sei que não devia estar aqui hoje, mas não conseguia em consciência e em alma, para conseguirmos cumprir a missão de transformar Portugal”, declarou. Admitiu também que os últimos dias tinham sido “três dias muito difíceis”, mas foi precisamente nesses momentos que, segundo o próprio, percebeu “a força de mudar o país”.

Durante o discurso, mostrou-se visivelmente combalido e, por instantes, a voz falhou-lhe. Parou por breves segundos, notoriamente abalado, mas tranquilizou com um gesto os rostos preocupados dos apoiantes e deputados junto ao palco, prosseguindo com dificuldade até ao final da intervenção.

“A minha saúde é só um pequeno percalço face ao objetivo maior de transformar este país”, disse Ventura, apontando que Portugal está “inundado de corrupção, de imigração ilegal e descontrolada”. Lembrou ainda encontros com pensionistas durante a campanha que lhe transmitiram o “quão miserável é a reforma que têm”, o que, segundo afirmou, reforçou a sua convicção de que o país “anda há 50 anos a distribuir para os mesmos de sempre” e tem esquecido “aqueles que lutam por nós e contribuíram para este país”.

O líder do Chega pediu uma oportunidade ao eleitorado, recordando que “começámos a campanha a pedir uma oportunidade porque os outros falharam consecutivamente”. No momento mais frágil, com a voz embargada, Ventura fez uma pausa, mas reiterou: “A luta tem de ser convencer todos de que o país chegou à imundície e à bandalheira e que precisamos de uma oportunidade”. Terminou com uma promessa: “Vamos ganhar”.

Logo após terminar o discurso, André Ventura abandonou a Praça do Município em lágrimas, sem prestar declarações aos jornalistas. Saiu pelo próprio pé, visivelmente fragilizado, depois de um discurso que emocionou tanto o próprio como os presentes.

Na véspera, o líder do Chega tinha afirmado que não estaria presente no último dia de campanha, após ter recebido alta hospitalar à noite. “Sinto-me melhor”, disse aos jornalistas à saída do Hospital de São Bernardo, em Setúbal, onde esteve internado após um novo episódio de mal-estar ocorrido durante uma arruada em Odemira, na manhã de quinta-feira. O diagnóstico, segundo explicou, apontava para “um espasmo esofágico, um espasmo com características agudas”. Ventura acrescentou que foram feitos exames que tranquilizaram os médicos quanto ao risco cardíaco. “Os médicos e o hospital aconselharam-me a medicar-me e a parar um pouco”, afirmou, salientando ainda que teria de realizar outras análises posteriormente.

Cerca das 22h25, partilhou uma fotografia nas redes sociais, deitado numa cama de hospital, com a legenda: “Exames concluídos, vou regressar a casa”. Recebeu alta pelas 22h35 e saiu acompanhado pela mulher e pela sua equipa de segurança.

O incidente de quinta-feira foi o segundo episódio clínico em poucos dias. Na terça-feira à noite, Ventura já se tinha sentido mal e passado a noite em observação no Hospital de Faro. Após um dia de descanso, regressou à campanha em Odemira, mas acabou por abandonar a arruada em lágrimas, voltando a ser assistido — primeiro no centro de saúde local, depois no Hospital do Litoral Alentejano, antes de ser transferido para Setúbal para a realização de um cateterismo.

Campanha final decorreu sem o líder
Na sequência da sua hospitalização, o Chega anunciou oficialmente que André Ventura não participaria no encerramento da campanha eleitoral e que regressaria a casa após a alta. As últimas ações da campanha decorreram sem o líder do partido. A visita ao Mercado do Livramento, em Setúbal, e a tradicional arruada no Chiado realizaram-se na sexta-feira com a presença de outros dirigentes, incluindo Pedro Pinto, líder parlamentar e cabeça de lista por Faro.

Ainda assim, André Ventura decidiu contrariar a decisão anunciada e surgiu, num gesto emotivo, no encerramento da campanha. Fê-lo debilitado, emocionado e em lágrimas — mas determinado em deixar uma última mensagem antes das eleições legislativas marcadas para domingo.