
Julgamento do esfaqueamento de Salman Rushdie começa esta terça-feira nos EUA
O julgamento do ataque a Salman Rushdie, ocorrido em agosto de 2022, arranca hoje no estado de Nova Iorque. Hadi Matar, um cidadão norte-americano de origem libanesa, de 26 anos, é acusado de tentativa de homicídio e agressão ao escritor britânico. O ataque, que ocorreu durante uma conferência em Chautauqua, deixou Rushdie gravemente ferido e resultou na perda da visão de um olho.
O atentado contra o escritor ocorreu a 12 de agosto de 2022, momentos antes de este iniciar uma palestra sobre liberdade de expressão. De acordo com testemunhas no local, Matar investiu contra Rushdie no palco e desferiu dez facadas, atingindo-o no pescoço, no abdómen e noutras partes do corpo.
Após o ataque, Rushdie foi transportado de urgência para o hospital, onde chegou a ser ligado a um ventilador. Os ferimentos causaram-lhe danos permanentes: além da cegueira num olho, perdeu também a mobilidade de uma das mãos.
Apesar das sequelas, o escritor manteve-se ativo e publicou, em abril de 2024, um livro sobre o ataque intitulado Faca. No relato autobiográfico, Rushdie descreve o impacto físico e emocional da agressão, admitindo: “Serei sempre o tipo que foi esfaqueado. É a faca que me define.”
Hadi Matar enfrenta acusações de tentativa de homicídio e agressão, mas nega qualquer intenção de matar o escritor. Desde a sua detenção, encontra-se encarcerado na prisão de Mayville, sem direito a fiança.
Para além do caso do esfaqueamento, Matar é também alvo de um processo federal nos Estados Unidos, onde é acusado de prestar “apoio material e recursos” ao Hezbollah, organização libanesa considerada terrorista por Washington e com ligações ao Irão.
As motivações do ataque estão a ser analisadas, mas o histórico de ameaças contra Rushdie remonta a 1989, quando o aiatola Ruhollah Khomeini, líder supremo do Irão, emitiu uma fatwa ordenando a sua execução. O decreto religioso surgiu após a publicação do romance Os Versículos Satânicos, considerado blasfemo por setores do islamismo radical. Desde então, a vida de Rushdie tem sido marcada por constantes ameaças e tentativas de atentado.
A instabilidade em torno do caso levou o juiz responsável a advertir as equipas de defesa e acusação para evitarem declarações públicas que possam inflamar o debate. Como refere o jornal The Guardian, a autoridade judicial sublinhou as “tensões sociais relacionadas com a violência motivada pela religião” e apelou à contenção mediática.
Espera-se que Salman Rushdie preste testemunho no julgamento, descrevendo o impacto do ataque e as consequências que sofreu. O desfecho do processo poderá ter implicações mais vastas, não apenas na justiça norte-americana, mas também nas relações internacionais, dada a alegada ligação do agressor ao Hezbollah e o histórico de ameaças vindas do Irão.