Itália proíbe símbolos de linguagem neutra nas escolas e incendeia debate cultural

O governo italiano determinou a proibição do uso de símbolos de linguagem neutra nas escolas, alegando que tais práticas são contrárias às normas gramaticais da língua italiana e comprometem a clareza na comunicação institucional. A medida, anunciada pelo Ministério da Educação esta sexta-feira, promete intensificar o confronto entre o executivo de direita, que se apresenta como defensor dos valores tradicionais, e os grupos que advogam pelos direitos LGBTQ e da igualdade de género.

Num comunicado oficial, o ministério explicou que “o uso de sinais gráficos não conformes, como o asterisco (*) e o schwa (ə), é contrário às normas linguísticas e arrisca comprometer a clareza e a uniformidade da comunicação institucional”. O governo liderado por Giorgia Meloni tem reiterado a importância de preservar a gramática tradicional da língua italiana e rejeitado alterações que considera artificiais ou ideológicas.

A decisão reflete uma postura firme da administração de Meloni, que já havia gerado polêmica ao exigir que seu título oficial de “presidente do conselho” fosse precedido pelo artigo masculino “il”, em vez do feminino “la”. A língua italiana, assim como outras derivadas do latim, atribui género aos substantivos e adjectivos, sendo que, no plural, a forma masculina prevalece quando se refere a um grupo misto.

Nos últimos anos, setores progressistas têm promovido alternativas para tornar a língua mais inclusiva. Entre essas propostas estão o uso do asterisco e do schwa, um caractere fonético (ə) que se pretende neutro. Para muitos ativistas, a estrutura linguística tradicional reflete uma dominação masculina e reforça desigualdades sociais. No entanto, a medida também encontra forte resistência entre os defensores da gramática tradicional.

A Accademia della Crusca, instituição responsável pela preservação da língua italiana, já se manifestou contrária à introdução de tais símbolos em documentos oficiais. O órgão argumenta que esses elementos são inovações desnecessárias e podem dificultar a compreensão da língua escrita e falada.

A decisão do governo italiano surge num contexto mais amplo de embates sobre questões culturais e sociais no país. Desde que assumiu o poder em 2022, Giorgia Meloni tem defendido uma agenda conservadora, enfatizando a preservação da identidade nacional e combatendo mudanças que considera alinhadas a uma “agenda progressista radical”.

Grupos de defesa dos direitos das mulheres e LGBTQ reagiram à proibição, acusando o governo de negar avanços na inclusão e de reforçar padrões linguísticos que perpetuam desigualdades. A medida também foi criticada por educadores e alguns setores académicos, que argumentam que a evolução da língua deve refletir mudanças sociais.

A polémica em torno do uso da linguagem neutra nas escolas italianas parece longe de um consenso, refletindo um debate mais amplo sobre identidade, cultura e inclusão no país.