Israel vai começar nova fase de negociações para cessar-fogo em Gaza esta semana, confirma governo

Israel iniciará esta semana negociações indiretas com o Hamas para a segunda fase do acordo de cessar-fogo em Gaza, confirmou esta terça-feira o ministro dos Negócios Estrangeiros israelita, Gideon Saar. O governo israelita insiste que qualquer entendimento futuro deverá incluir a desmilitarização total da Faixa de Gaza, um ponto que promete dificultar as negociações.

As conversações deveriam ter começado no passado dia 2 de fevereiro, mas o Catar, mediador das negociações juntamente com o Egito e os Estados Unidos, indicou que os diálogos ainda não se iniciaram oficialmente. “Vai acontecer esta semana”, garantiu Saar numa conferência de imprensa em Jerusalém.

Nas últimas semanas, Israel enviou sinais contraditórios sobre o seu compromisso com esta segunda fase do cessar-fogo, que teve início a 19 de janeiro. O acordo inicial prevê três etapas e tem como objetivo declarado um cessar definitivo da guerra em Gaza. A primeira fase inclui a troca de 33 reféns israelitas por centenas de prisioneiros palestinianos, uma troca que, apesar de várias tensões e alegações de violações do acordo, tem sido mantida.

A segunda fase das negociações deverá ser mais complexa, pois abordará a administração de Gaza no período pós-guerra, um tema que continua a gerar divergências significativas entre as partes envolvidas. “Não aceitaremos a continuidade do Hamas ou de qualquer outra organização terrorista em Gaza”, sublinhou Saar.

Ainda assim, o ministro israelita deixou aberta a possibilidade de prolongar a primeira fase do cessar-fogo, que tem uma duração inicial de seis semanas, caso os diálogos sejam produtivos. “Se virmos que há um diálogo construtivo e uma perspetiva real de alcançar um acordo, então faremos com que este prazo se estenda”, afirmou.

Até agora, 19 reféns israelitas foram libertados em troca de centenas de prisioneiros palestinianos. Outros 14 reféns, seis deles dados como vivos, deverão ser libertados ainda nesta primeira fase, com Israel a tentar garantir a sua libertação no sábado. Além disso, os corpos de quatro reféns falecidos deverão ser entregues na quinta-feira.

Recorde-se que o conflito em Gaza teve início a 7 de outubro de 2023, após um ataque transfronteiriço do Hamas que causou cerca de 1.200 mortes em Israel, de acordo com dados israelitas. Como resposta, Israel lançou uma ofensiva de larga escala sobre o enclave palestiniano, que, segundo fontes do Ministério da Saúde de Gaza, já causou mais de 48.000 mortos. A ofensiva destruiu grande parte da infraestrutura da Faixa de Gaza e deslocou centenas de milhares de pessoas, agravando a crise humanitária no território.

Em resposta às duras condições no terreno, Israel anunciou que irá permitir a entrada de casas móveis para os deslocados palestinianos, numa tentativa de mitigar o impacto do inverno sobre a população. No entanto, o Hamas acusa Israel de atrasar a entrega destes abrigos, ameaçando suspender a libertação de reféns até que a questão seja resolvida.

As negociações decorrem num contexto de forte pressão internacional. O frágil acordo de cessar-fogo foi ainda ensombrado por recentes declarações do ex-presidente dos EUA, Donald Trump, que sugeriu que os palestinianos deveriam ser deslocados de Gaza, transformando o território num empreendimento costeiro sob controlo norte-americano. A proposta foi veementemente rejeitada por grupos palestinianos, estados árabes e aliados ocidentais dos EUA, que a consideraram uma forma de limpeza étnica.

Por outro lado, o ministro da Defesa israelita, Israel Katz, anunciou na segunda-feira a criação de uma nova unidade no seu ministério para facilitar a saída de palestinianos da Faixa de Gaza para países terceiros. O governo israelita argumenta que os habitantes de Gaza que queiram partir devem ter essa possibilidade, uma posição que levanta preocupações sobre eventuais deslocações forçadas da população.

O futuro da Faixa de Gaza permanece incerto, e o sucesso das negociações poderá determinar se o cessar-fogo levará a uma paz duradoura ou a uma nova escalada do conflito.