Irão ameaça Google por uso da designação “Golfo Árabe” em vez de “Pérsico” na aplicação de mapas

O Governo iraniano anunciou esta semana a sua intenção de avançar com uma ação judicial contra a Google, acusando a gigante tecnológica de deturpar deliberadamente a designação do “Golfo Pérsico” ao utilizar a expressão “Golfo Árabe” na sua aplicação Google Maps. A polémica surge num momento de crescente tensão entre Teerão e Washington, agravada por alegadas intenções do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de oficializar a mudança de nome.

Segundo a agência noticiosa estatal IRNA, o vice-diretor do Centro Nacional do Espaço Virtual do Irão (NVSC), Mohammad-Sadeq Farahani, afirmou que esta possível ação judicial decorre da “obrigação de proteger a identidade cultural do Irão”. O responsável explicou que o país planeia abordar a questão por três vias distintas: “Primeiro, apresentando um protesto formal junto de organizações internacionais; segundo, levando o caso aos tribunais e instâncias judiciais internacionais; e, por fim, apresentando uma queixa em tribunais nacionais, com o apoio do Ministério dos Negócios Estrangeiros e do sistema judicial”.

A controvérsia ganhou novo fôlego após surgirem notícias de que Donald Trump pondera adotar oficialmente a expressão “Golfo Árabe” ou “Golfo da Arábia” em documentos oficiais dos EUA, substituindo o nome historicamente utilizado — Golfo Pérsico. A proposta terá surgido no contexto de uma tentativa de reforçar laços com aliados árabes do Golfo, antes de uma visita presidencial à região, durante a qual foram anunciados investimentos bilionários em dólares norte-americanos por parte desses mesmos parceiros.

A Google, até ao momento, não respondeu publicamente às críticas nem às solicitações de esclarecimento por parte da imprensa, incluindo a revista Newsweek, que contactou tanto a empresa como o Ministério dos Negócios Estrangeiros iraniano.

Utilização variável da nomenclatura na aplicação Google Maps
De acordo com várias fontes, incluindo a IRNA, a aplicação Google Maps apresenta designações diferentes consoante a localização do utilizador. Quando a pesquisa é feita a partir de países do Médio Oriente, surge frequentemente o termo “Golfo Árabe”. No entanto, em outras partes do mundo, a aplicação exibe ambas as designações — “Golfo Pérsico” e “Golfo Árabe” — para o mesmo corpo de água.

Esta prática de nomeação geográfica já levou a outras disputas diplomáticas. O próprio presidente do México, Claudia Sheinbaum, anunciou recentemente que o seu Governo apresentou uma queixa contra a Google após a designação do Golfo do México ter sido temporariamente alterada para “Golfo da América” na aplicação, conforme noticiado pela Associated Press. Também a alteração do nome do Mar do Sul da China para “Mar das Filipinas Ocidental” gerou protestos formais de Pequim.

Implicações diplomáticas e identidade cultural
O nome “Golfo Pérsico” tem uma longa tradição histórica e é reconhecido como tal por organizações como as Nações Unidas. A tentativa de substituição por “Golfo Árabe” é considerada pelo Irão como uma provocação e um atentado à sua herança cultural. A reação de Teerão enquadra-se também num contexto mais amplo de conflito político com os EUA, centrado em questões nucleares e militares.

Por outro lado, nos países árabes do Golfo — como os Emirados Árabes Unidos e a Arábia Saudita — o termo “Golfo Árabe” é o mais comum, tanto no discurso popular como em documentos oficiais, o que reflete a disputa regional em torno da toponímia.

Novas funcionalidades do Google Maps
Enquanto a polémica se desenrola, a Google anunciou uma nova parceria com a empresa Esri, especializada em inteligência de localização. Esta colaboração visa desenvolver uma tecnologia cartográfica avançada que será disponibilizada ao público até ao terceiro trimestre de 2025. A empresa não especificou se estas atualizações terão impacto nas atuais opções de nomenclatura geográfica.

O caso entre o Irão e a Google promete prolongar-se nos fóruns internacionais, num momento em que a tecnologia digital e os mapas online se tornaram palco de disputas diplomáticas, culturais e simbólicas.