Inquérito à morte do magnata Mike Lynch em naufrágio de iate de luxo vai demorar “vários meses”

O inquérito à morte do empresário tecnológico britânico Mike Lynch, do banqueiro Jonathan Bloomer e de membros das suas famílias, que faleceram na sequência do naufrágio de um iate de luxo ao largo da Sicília em agosto de 2024, deverá prolongar-se por “vários meses”, revelou esta terça-feira o tribunal do condado de Suffolk.

O superiate “Bayesian”, propriedade da família Lynch, afundou-se a 19 de agosto do ano passado durante uma tempestade súbita e violenta ao largo do porto de Porticello, nos arredores de Palermo, na Sicília. Morreram sete pessoas, entre elas Mike Lynch, de 59 anos, a sua filha Hannah, de 18, o presidente da Morgan Stanley International, Jonathan Bloomer, e a sua esposa, Judith. Também dois outros convidados e o cozinheiro da embarcação não sobreviveram.

Segundo o depoimento prestado esta terça-feira por Mark Cam, investigador sénior da Maritime and Coastguard Agency (MCA) britânica, no tribunal de Suffolk, os esforços de salvamento da embarcação deverão começar brevemente, com o objetivo de remover o “Bayesian” do fundo do mar e trazê-lo para terra firme durante o mês de maio.

“A embarcação encontra-se atualmente de lado, a cerca de 50 metros de profundidade. Estimamos que os trabalhos de salvamento permitirão trazê-la para terra já em maio deste ano”, afirmou Mark Cam.

Cam acrescentou que a análise técnica e forense ao iate e aos seus sistemas de dados irá prolongar-se durante muitos meses, sublinhando a complexidade da investigação.

MCA e Itália investigam responsabilidades criminais
O inquérito liderado pelas autoridades britânicas decorrerá em paralelo com uma investigação penal das autoridades italianas, que colocaram três membros da tripulação sob investigação formal. Estão a ser analisadas possíveis responsabilidades criminais por homicídio negligente e causação de naufrágio.

Os suspeitos são o capitão James Cutfield, o engenheiro de bordo Tim Parker Eaton e o marinheiro de turno na noite do acidente, Matthew Griffiths. Apesar de estarem sob investigação, isso não significa que tenham sido formalmente acusados ou que haja presunção de culpa neste momento, esclarecem as autoridades italianas.

Por seu lado, a Marine Accident Investigation Branch (MAIB) britânica está também a conduzir uma investigação independente à tragédia, coordenada com a MCA.

O juiz de instrução, Nigel Parsley, questionou Mark Cam sobre se seria razoável presumir que o inquérito judicial não seria concluído nos próximos meses, dado o estado ainda preliminar da investigação criminal. A resposta do investigador foi clara:

“Acredito que sim, senhor. A investigação ainda está longe de estar concluída”, disse Cam.

Naufrágio deu-se após absolvição mediática
Mike Lynch encontrava-se na embarcação a celebrar a sua absolvição em junho de 2024, num caso judicial de alto perfil nos Estados Unidos, onde enfrentava 15 acusações de fraude relacionadas com a venda da sua empresa Autonomy à Hewlett-Packard por 11 mil milhões de dólares em 2011. A transação foi seguida de uma auditoria e acusações de manipulação contabilística, mas Lynch foi ilibado de todas as acusações.

O trágico acidente ocorreu apenas dois meses após essa vitória legal. A bordo do “Bayesian”, os convidados encontravam-se a celebrar o desfecho favorável do julgamento, quando foram surpreendidos pela tempestade que culminaria na tragédia.

As conclusões sobre as causas exatas do naufrágio e eventuais responsabilidades só deverão ser conhecidas após uma investigação meticulosa, cuja duração, segundo todos os intervenientes, será extensa e tecnicamente exigente.