Imprensa inglesa diz que apagão ibérico foi provocado por “experiência ecológica” de Espanha com energias renováveis
A imprensa inglesa avança uma causa para o apagão que deixou milhões de pessoas sem eletricidade em Portugal e Espanha, no passado dia 28 de abril, ainda que as autoridades portuguesas e espanholas não tenham ainda apontado uma origem concreta para o problema registado. Segundo avança o jornal The Telegraph, que cita fontes de Bruxelas, o apagão terá sido causado por uma experiência ecológica conduzida pelo Governo espanhol, no contexto de um teste destinado a provar a capacidade da rede para operar com níveis recorde de produção de energia renovável.
De acordo com o Telegraph, o objetivo da experiência era avaliar até que ponto seria possível aumentar a dependência das energias renováveis, em preparação para o encerramento progressivo dos reatores nucleares em Espanha, previsto para ter início em 2027.
O jornal sustenta que a experiência terá sido levada a cabo sem garantir previamente os investimentos necessários numa rede elétrica inteligente e moderna, capaz de gerir um sistema mais complexo e descentralizado. O resultado foi um apagão que se estendeu por toda a Península Ibérica e afetou milhões de cidadãos em Espanha e Portugal.
O Daily Mail, que também noticiou o caso, calcula que “o incidente teve impacto em dezenas de milhões de vidas na Península”, e destaca o receio crescente de que outros países europeus possam vir a enfrentar situações semelhantes se a transição energética for mal planeada.
O Telegraph traça um paralelo controverso com o desastre nuclear de Chernobyl, ocorrido em 1986. “Isto faz lembrar a fusão de Chernobyl, que começou como uma experiência para simular o que acontece a um reator durante um apagão. Os operadores ignoraram os alertas de que o reator número quatro estava com níveis de energia demasiado baixos, o que levou a uma falha em cadeia”, escreve o jornal britânico.
O mesmo artigo levanta sérias críticas à gestão da Red Eléctrica Española (REE), a empresa responsável pela operação da rede, salientando que o Estado espanhol detém uma participação de 20%, o que lhe confere poder de veto sobre decisões estratégicas, exercido através da SEPI — a Sociedade Estatal de Participações Industriais.
O Telegraph aponta também que, apesar da natureza altamente técnica do cargo, a presidência da REE foi atribuída a uma figura política próxima do Partido Socialista, sem experiência no setor energético, o que gerou fortes críticas na altura da nomeação. Segundo o jornal, o salário desta responsável é seis vezes superior ao do primeiro-ministro espanhol.
O artigo recorda ainda que o anterior presidente da REE se demitiu em protesto contra a crescente interferência política, acusando o Governo de promover uma agenda ecológica “com fervor messiânico”, mas sem garantir a preparação técnica necessária para a sua implementação.
Oscilação anómala antecedeu apagão
A imprensa britânica dá também conta de uma oscilação elétrica anómala detetada na rede europeia cerca de 30 minutos antes do colapso ibérico. Segundo o Telegraph, a origem desta flutuação permanece desconhecida, mas pode estar relacionada com os testes conduzidos em Espanha.
Fontes citadas no artigo denunciam que a REE tem colocado obstáculos à investigação em curso, dificultando o acesso a dados técnicos que poderiam ajudar a esclarecer as causas reais do apagão.
Impacto político poderá ser devastador
Do ponto de vista político, o Telegraph alerta que, se for confirmado que o apagão resultou de uma experiência falhada e que essa informação foi ocultada ao público durante semanas, as consequências para a esquerda espanhola poderão ser devastadoras. “Se for provado que se tratou de uma experiência controlada que correu mal e que foi escondida do público, a esquerda espanhola poderá ser varrida do mapa político durante uma geração”, lê-se no artigo.
O Governo socialista de Pedro Sánchez tem sido acusado de tentar ganhar tempo com justificações que, segundo os meios britânicos, carecem de base técnica ou roçam o absurdo. A confiança nas explicações oficiais é, segundo o Telegraph, praticamente inexistente.