Imagens de satélite deixam dúvidas sobre se a capacidade nuclear do Irão foi destruída após ataque ordenado por Trump

A decisão do presidente Donald Trump em atacar três importantes instalações nucleares pode ter sabotado as capacidades atómicas do Irão, mas também criou um desafio monumental para descobrir o que resta e onde.

De acordo com o presidente americano, os locais – fortemente fortificados – foram “totalmente destruídos” na noite do passado sábado: no entanto, análises independentes não permitiram comprovar essa afirmação, indicou a ‘Bloomberg’. Em vez de garantir uma vitória rápida, os ataques complicaram a tarefa de rastrear o urânio e garantir que o Irão construa uma arma nuclear, defenderam três fontes à publicação.

Imagens de satélite tiradas este domingo de Fordow e distribuídas pela Maxar Technologies mostraram novas crateras, possíveis entradas de túneis desmoronadas e buracos no topo de uma serra. Mostraram também que um grande edifício de apoio em Fordow, que os operadores podem usar para controlar a ventilação das salas de enriquecimento subterrâneas, permaneceu intacto. Não houve fugas de radiação do local, informou a AIEA.

Novas imagens de Natanz mostraram uma nova cratera com cerca de 5,5 metros de diâmetro. A Maxar afirmou, em comunicado, que o novo buraco era visível na terra diretamente sobre uma parte da instalação subterrânea de enriquecimento. A imagem não oferece evidências conclusivas de que o ataque tenha rompido o local subterrâneo, enterrado a 40 metros de profundidade e reforçado com uma camada de betão e aço de 8 metros de espessura.

Os inspetores da AIEA, por sua vez, não conseguem verificar a localização do stock de urânio quase em grau de bomba do país do Golfo Pérsico há mais de uma semana: Teerão já informou que rompeu os laços com a AIEA e transferiu o material para outro local não revelado.

Há uma pequena possibilidade de que a entrada dos EUA na guerra convença o Irão a aumentar a cooperação com a AIEA, disse Darya Dolzikova, investigadora sénior do Royal United Services Institute, think tank sediado em Londres. “O cenário mais provável é que convençam o Irão de que a cooperação e transparência não funcionam e que construir instalações mais profundas e não declaradas abertamente é mais sensato para evitar ataques semelhantes no futuro”, apontou.

A missão central da AIEA é contabilizar os níveis de urânio em gramas em todo o mundo e garantir que não é usado para armas nucleares. O último bombardeamento complicou ainda mais o rastreamento do urânio iraniano, disse Tariq Rauf, ex-chefe da política de verificação nuclear da AIEA. “Agora será muito difícil para a AIEA estabelecer um balanço material para os quase 9.000 quilos de urânio enriquecido, especialmente os quase 410 quilos de urânio enriquecido a 60%.”

Este stock de urânio — suficiente para fabricar 10 ogivas nucleares num local clandestino — foi visto em Isfahan por inspetores da AIEA. Mas o material, que caberia em apenas 16 contentores pequenos, pode já ter sido levado para fora do local. “Ainda há dúvidas sobre onde o Irão pode estar a armazenar os seus stocks já enriquecidos”, frisou Dozikova. “É quase certo que foram transferidos para locais protegidos e não revelados, longe de potenciais ataques israelitas ou americanos.”