
Hamas rejeita nova proposta de cessar-fogo apresentada por Israel
O movimento islamista Hamas rejeitou a mais recente proposta de cessar-fogo apresentada por Israel, segundo revelou esta terça-feira uma fonte palestiniana de alto nível à BBC. A proposta, transmitida com mediação egípcia, previa uma trégua de 45 dias, a libertação de dezenas de reféns israelitas e a retoma da ajuda humanitária à Faixa de Gaza, atualmente devastada por meses de ofensiva militar. No entanto, a exigência de desarmamento do grupo imposta por Israel foi considerada “inaceitável” por parte do Hamas, segundo a mesma fonte.
As negociações continuam a decorrer de forma indireta, com o envolvimento de mediadores do Egito e do Qatar, mas o impasse persiste. O Hamas insiste que só aceitará um acordo que inclua um compromisso claro e público de Israel com o fim definitivo da ofensiva militar e com a retirada total da Faixa de Gaza. Esta exigência contrasta com a posição firme do governo de Benjamin Netanyahu, que recusa dar garantias nesse sentido, argumentando que tal comprometeria a segurança de Israel e permitiria ao Hamas manter a sua capacidade militar e organizacional.
Segundo informações divulgadas pelo jornal El Mundo e pela BBC, o plano israelita previa a libertação de 10 reféns vivos e 16 corpos de reféns já falecidos, em troca da libertação de centenas de prisioneiros palestinianos, entre os quais 120 condenados a prisão perpétua por atentados. Além disso, a proposta incluía a reativação da ajuda humanitária à Faixa de Gaza, suspensa desde o final da primeira fase de trégua, em 2 de março. Este plano enquadra-se numa tentativa de alcançar uma nova pausa nos combates, após o fim da primeira trégua, que tinha começado a 19 de janeiro.
O ataque do Hamas a 7 de outubro de 2023, que deu origem à atual escalada do conflito, resultou no sequestro de 251 pessoas. Segundo dados israelitas, 59 ainda permanecem em cativeiro e, dessas, apenas 24 estarão com vida. Antes do recomeço dos ataques israelitas há cerca de um mês, o Hamas já tinha aceitado libertar um refém vivo e quatro cadáveres. Desde então, a sua posição tem oscilado à medida que a pressão militar sobre Gaza se intensifica, e nas últimas rondas de conversações em El Cairo o grupo terá admitido libertar oito ou nove reféns vivos.
Contudo, do ponto de vista do Hamas, o mais importante não é o número de reféns a libertar, mas sim a obtenção de uma declaração pública de Israel de que a trégua será definitiva. Esta é precisamente uma das condições que Netanyahu e dois dos seus principais aliados políticos se recusam a aceitar, insistindo que qualquer cessar-fogo duradouro sem o desmantelamento do Hamas significaria permitir a continuidade de um grupo armado responsável pelo ataque de outubro. O gabinete do primeiro-ministro israelita justifica esta posição com a necessidade de evitar futuros atentados e de garantir que o Hamas não mantém o controlo sobre Gaza.
Do lado do Hamas, a resposta foi clara. Sami Abu Zuhri, porta-voz do movimento, afirmou à cadeia televisiva Al Jazeera que “a exigência de desarmamento é inaceitável. Não se trata apenas de uma linha vermelha, mas de um milhão de linhas vermelhas”. E acrescentou: “Enquanto houver ocupação, a resistência continuará e as armas permanecerão nas mãos da resistência para defender o nosso povo e os nossos direitos”.
Durante uma visita realizada esta terça-feira a tropas israelitas no norte da Faixa de Gaza, Benjamin Netanyahu reforçou a sua posição e elogiou o desempenho das forças armadas, dizendo: “Estamos a fazer um excelente trabalho aqui em Gaza. Estamos a atingir o inimigo, e o Hamas continuará a receber golpes cada vez mais duros”. O primeiro-ministro sublinhou ainda que “insistimos na libertação dos nossos reféns e em alcançar todos os objetivos de guerra”.
Apesar da retórica firme de Netanyahu, cresce dentro de Israel a pressão para que se alcance um acordo que permita o regresso dos reféns. Reservistas e antigos militares têm manifestado publicamente, através de cartas e declarações, o desejo de ver os sequestrados libertados, mesmo que isso implique um cessar-fogo imediato e concessões por parte do governo.
Enquanto se aguarda uma resposta formal do Hamas, o grupo mantém contactos diplomáticos em Doha e no Cairo. Algumas fontes próximas das negociações indicam que poderá ser apresentada uma contraproposta que exija uma trégua mais prolongada e garantias internacionais mais robustas — nomeadamente dos Estados Unidos — para assegurar que Israel não retomará os combates. No entanto, se a exigência de desarmamento se mantiver como condição inegociável por parte de Israel, e como linha vermelha absoluta para o Hamas, a possibilidade de alcançar um cessar-fogo duradouro continua a parecer remota.