Há cada vez mais crianças com menos de 10 anos a ver pornografia violenta: especialistas alertam que pode arruinar a vida futura dos jovens

Há cada vez mais crianças com menos de 10 anos a consumir pornografia violenta, indicou esta segunda-feira a ‘CNN Portugal’: o impacto desde contacto, desde que há acesso livre a dispositivos com internet, pode arruinar a vida futura dos jovens, têm alertado os especialistas.

É o caso de Isabel, de 37 anos, que dedica o dia à casa e às filhas de 13 e seis anos, na zona da Serra da Estrela, que utiliza ferramentas digitais para controlar o uso que a filha mais velha dá ao telemóvel. “Sempre tive o Family Link. Até para saber o paradeiro dela, em caso de alguma emergência. Iam-me aparecendo notificações de excesso de tempo em determinadas aplicações e alertas da própria aplicação se não queria reforçar os bloqueios. Pedi-lhe o telemóvel e fui ver o histórico”, apontou.

No dispositivo, deparou-se “com pornografia. Hardcore. E com pessoas que ela não conhecia a pedirem-lhe fotografias e ela a receber de volta fotografias de órgãos genitais masculinos”. “Sentei-me com ela a conversar. Falámos sobre pornografia, sobre o que ela sentia quando via pornografia. Fiquei assustada, porque percebi que ela achava que o sexo era mesmo assim. Ela achava que era real e que era assim que ela tinha de aprender a fazer as coisas. Expliquei-lhe que nada daquilo era verdade, que a realidade estava muito longe de ser assim”, apontou. A filha contou que, na sua turma, há “concursos de gemidos”, a “fingir orgasmos”.

A filha de Isabel não é a única pré-adolescente de uma turma de 12 anos que via “pornografia hardcore”: o fenómeno, contou, era generalizado a quase todos os colegas. “Fiquei incrédula, porque, supostamente, são aquelas meninas ‘santinhas’, que os pais nem sonham sequer que as filhas fazem coisas dessas.”

Alfredo Leite, licenciado em Psicologia e professor universitário, fundador do centro de desenvolvimento de competências Mundo Brilhante, recomendou que qualquer mãe que descubra o filho, criança ou pré-adolescente, a ver pornografia, não deve gritar, humilhar ou entrar em pânico”. Depois, deve procurar conversar com a criança e o especialista deixa cinco momentos chave pelos quais deve passar essa conversa: normalizar a conversa, questione para compreender, não para acusar, explicar o que viu, instalar filtros nos dispositivos e, por último, falar de prazer e afeto com verdade.

“É importante que os pais promovam um diálogo aberto sobre sexualidade, facultando informações adequadas à idade da criança e que ajudem a desenvolver uma compreensão saudável e realista das relações e da sexualidade”, reforçou a psicóloga Marta Fialho. “A sexualidade é um caminho bonito e natural, que deve assentar numa intimidade bonita, sendo a base a troca dos afetos e o amor. Visualizar sexualidade hardcore é facultar uma mensagem enviesada, destrutiva e pouco saudável do que deve ser uma relação sexual.”

Manuel Ferreira de Magalhães, médico pediatra no Centro Materno Infantil do Porto e também no Hospital dos Lusíadas, sublinhou que os impactos desde contacto precoce e descontextualizado podem ser do foro emocional, psicológico e até sexual. “Tudo o que seja acelerar o comportamento sexual da criança, seja por danças, seja por coisas que ouvem, seja por conteúdo explícito que veem, vai fazer com que esteja exposta a algo que não consegue compreender e com que normalize comportamentos que não devem ser normalizados. Até porque a pornografia que está disponível é, muitas vezes e cada vez mais, uma pornografia violenta, que não corresponde à realidade. Vai fazer com que aquela criança tenha uma aprendizagem sexual que não é verdadeira, com riscos para futuros, para quando iniciar a sua prática sexual”, referiu.