Green Bonds: Investir no planeta

As Green Bonds são cada vez mais uma proposta que agrada aos investidores, porque obtêm resultados ao mesmo tempo que permitem o desenvolvimento de empresas ligadas à protecção do meio ambiente. João Safara, administrador do ISQ, falou com a Risco sobre este tema.  

Quais os factores que explicam uma maior popularidade das Green Bonds nos últimos anos?
A actual sociedade, ao ter um conhecimento mais profundo sobre o estado do planeta e uma constatação de que as consequências das alterações climáticas estão cada vez mais presentes e com eventos extremos na vida de todos nós, começa a ter comportamentos e objectivos no curto prazo que podem vir a gerar efeitos positivos a médio e longo prazo. A COP21 de Paris e a COP26 de Glasgow vieram trazer ao mundo um compromisso de alcançar a neutralidade carbónica em 2050 e o principal meio para o conseguir é através da transição energética, o que vai levar à criação de uma infra–estrutura energética de muito baixa emissão de carbono (ou mesmo zero). Para esta transição, os orçamentos públicos dos países não são suficientes, o que impõe a captação de recursos junto do mercado de capitais e de investidores tanto por emitentes privados como públicos.
O sucesso e popularidade das Green Bonds é o reflexo de que actualmente é possível investir capital em produtos financeiros (geralmente com rating de qualidade e de baixo risco) em que o retorno não será apenas o cupão associado da emissão obrigacionista, mas também preponderantes impactes positivos no planeta a longo prazo, na medida em que estão fundamentalmente associadas a financiamentos que asseguram o cumprimento das metas da neutralidade carbónica.
No fim do dia, o investidor considera que investiu numa boa taxa de juro, mas também é retribuído com um prémio “moral” de estar a ajudar a salvar o planeta e as próximas gerações.
Adicionalmente, em alguns países, como forma de potenciar a transição energética e climática, são oferecidos benefícios fiscais para os emitentes e/ou para os subscritores das Green Bonds, o que origina por vezes uma vantagem no pricing comparado com as obrigações tradicionais, o que também ajuda na popularidade das mesmas. Em Portugal não existem benefícios fiscais associados às Green Bonds.   

Além das vantagens do ponto de vista dos factores ESG, quais as mais-valias em termos de rentabilidade?
Para já, na óptica dos subscritores, estes não encontram nas yields das obrigações verdes ganhos financeiros superiores face às obrigações tradicionais. Já existem alguns estudos de revistas científicas que comparam as yields do mercado primário e secundário das Green Bonds face às yields das obrigações tradicionais e esses estudos têm constatado que as yields das Green Bonds possuem um valor inferior entre 15 a 20 pontos base face às obrigações tradicionais. Esse prémio, que na gíria das finanças sustentáveis apelidam de Greenium, permite assim aos emitentes ter um custo mais baixo.
Um outro ponto relevante nestes estudos é a constatação de que os emitentes de Green Bonds, que sejam sociedades abertas cotadas, vêem os valores das suas acções subirem nos dias seguintes após o sucesso da emissão. Os investidores accionistas percebem que um emitente, ao fazer essa emissão “verde”, está disposto a mudar os seus comportamentos e estratégias de curto para médio/longo prazo e não tem constrangimentos do seu investimento ser certificado por uma terceira parte, o que vai impulsionar um aumento do valor da acção.
Se excluirmos casos raros de emissões obrigacionistas verdes através de veículos próprios (os vulgos SPV – special purpose vehicle), no qual o activo verde é apenas o único activo do respectivo balanço, o risco de um detentor de uma obrigação verde é praticamente igual ao de um detentor de uma obrigação tradicional, na medida em que não está exposto directamente ao risco do projecto “verde”, mas sim exposto à totalidade do balanço do emitente e à sua respectiva liquidez.    

Como se distinguem outros tipos de instrumentos financeiros que estão a aparecer, como as Social Bonds e as Climate Bonds?
Dentro das finanças sustentáveis, e de forma a cobrir os factores ESG (Environmental, Social e Governance), existe uma enorme quantidade de instrumentos financeiros, mas geralmente “apenas” diferem entre si no projecto subjacente, no qual esse capital vai ser canalizado, na medida em que a lógica, o processo de implementação e o processo legal são praticamente os mesmos entre os diversos instrumentos. Por exemplo, as Social Bonds levantam capital para projectos que tragam resultados positivos para a sociedade em áreas tão distintas como a educação, reinserção social, habitação, saneamento, justiça, saúde e emprego, entre outras. Com o surgimento da pandemia de Covid-19, as Social Bonds começaram a ter um amplo destaque, na medida em que os governos centrais e regionais de diversos países necessitaram de se financiar para ajudar as populações mais afectadas pela pandemia.
As Climate Bonds são uma subárea das Green Bonds referente a projectos com impactes positivos no clima e na redução dos gases com efeito de estufa, mas que ainda não estão enquadrados na framework das Green Bonds, através da Climate Bonds Standard and Certification Scheme.
Actualmente, com bastante dinamismo e relevância no mercado de dívida das finanças sustentáveis, encontra-se a tipologia “sustainability-linked bonds (SLB)” em que o cupão da obrigação se encontra ligado à performance ou às metas a atingir pelo emitente e não apenas à monitorização do projecto, como acontece com as Green ou Social Bonds.   

Como se caracteriza o novo serviço de Second Party Opinion do ISQ e a que tipo de investidores se dirige?
O ISQ, pela sua experiência na área ambiental e de sustentabilidade ao longo dos últimos anos, tem a capacidade de realizar second party opinions referentes às diferentes tipologias de dívida sustentável.
Tendo por base os princípios e guias da International Capital Market Association (ICMA), da Loan Market Association (LMA) e os Environmental, Social and Governance Principles (ESG), o ISQ analisa e avalia a adequabilidade dos projectos candidatos a financiamento de acordo com as categorias de elegibilidade, de modo que se possa oferecer às empresas emitentes, bem como às instituições financeiras e a outros investidores, a segurança de que os seus fundos estão alinhados com as principais “frameworks” de finanças sustentáveis e que vão ao encontro dos objectivos estipulados.
Sendo o ISQ um centro de interface e de tecnologia de apoio à indústria, um dos principais factores de distinção perante os outros concorrentes é a sua capacidade de engenharia e observação técnica no terreno dos referidos projectos “green”. Dessa forma tenta-se garantir de uma forma independente que comportamentos de greenwashing não sejam executados. 

De que formas o ISQ presta apoio aos investidores nos seus projectos?
O ISQ e as empresas do Grupo ISQ possuem conhecimento, ferramentas e soluções idênticas ao que melhor se faz internacionalmente no apoio aos investidores e promotores dos vários projectos, consoante as especificidades e estado de maturidade de cada projecto.
Numa altura em que grandes projectos estão em fase de desenvolvimento e/ou implementação, quer associados ao Plano de Recuperação e Resiliência, quer a outro tipo de financiamentos com características ESG, o ISQ consegue apoiar os seus clientes na identificação de grandes condicionantes, que no futuro possam inviabilizar a implementação de um projecto, quer por constrangimentos legais, administrativos, quer por incompatibilidade com instrumentos de gestão territorial, perímetros urbanos, biodiversidade, património arqueológico, recursos hídricos e paisagísticos.
A identificação dos roteiros para obtenção de autorizações e licenças, o apoio nos processos de licenciamento municipal, industrial e ambiental e a realização de estudos técnicos nos regimes ambientais são fundamentais para o sucesso dos processos de legalização dos projectos.
Por outro lado, nos últimos anos, o interesse cada vez maior de investidores internacionais pelo país trouxe para a ordem do dia a realização de Due Diligences ambientais e energéticas em processos de M&A e também de promoção imobiliária e respectiva caracterização do passivo ambiental, como seja a avaliação da contaminação de solos e águas subterrâneas, bem como a realização de diagnósticos de circularidade dos processos (economia circular), uma vez que a maioria dos investidores internacionais está sensível para os objectivos de desenvolvimento sustentável.
É de destacar, também nos últimos anos, o apoio dado em matérias de monitorização de programas de ciclo de vida e pegada de carbono e hídrica, soluções de mitigação e adaptação das alterações climáticas, a sustentabilidade de edifícios (BREEAM, LEED, WELL), bem como a elaboração e revisão de relatórios ESG, entre outros. 

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