Governo espanhol diz que sujeitará projeto da Altri na Galiza a “máximas garantias ambientais”

O Governo de Espanha assegurou hoje que o projeto na Galiza da empresa portuguesa de pasta de papel Altri será submetido às “máximas garantias ambientais”, após um protesto no sábado que mobilizou milhares de pessoas na Corunha.

“Da parte do Governo, aquilo que fazemos com qualquer projeto e, neste caso, com o da Altri, é submetê-lo às máximas garantias ambientais”, afirmou a ministra da Transição Ecológica, Sara Aagasen, em resposta aos jornalistas em Madrid.

Já o subdelegado do Governo espanhol (liderado pelos socialistas) na província de Pontevedra (Galiza), Abel Losada, manifestou hoje dúvidas em relação ao projeto, culpando o executivo regional galego (conhecido como Xunta e liderado pelo Partido Popular) de um “engano inicial” em relação à natureza da unidade que a Altri pretende instalar na região.

Abel Losada disse que a Xunta apresentou o projeto como uma fábrica de fibras têxteis “de vanguarda e com a última tecnologia”, algo que, defendeu, agora não se confirma.

“De repente, quando passamos do ‘power point’ à realidade, vemos que é uma produção de pasta de papel, de celulose, que herda todos os problemas que tem este setor na Galiza”, acrescentou Abel Losada, citado pela agência de notícias Europa Press.

O representante do Governo espanhol manifestou, neste contexto, dúvidas sobre a elegibilidade do projeto para fundos europeus relacionados com a descarbonização, cuja atribuição depende do executivo nacional.

Na semana passada, o ministro espanhol da Indústria, Jordi Hereu, foi questionado no parlamento nacional sobre o projeto e os fundos europeus de que poderia beneficiar, tendo respondido que a Declaração de Impacto Ambiental (DIA) favorável aprovada pelo executivo autonómico dias antes não determina uma decisão em relação aos apoios comunitários.

“Não há espaço à ambiguidade, só à rejeição frontal”, respondeu o deputado do Bloco Nacionalista Galego (BNG), Néstor Rego, sublinhando que após a publicação da DIA e da luz verde do executivo regional, é o Governo de Espanha que “tem a chave” do futuro do projeto da Altri.

Já o Governo regional, através da conselheira com a tutela do Ambiente, Ángeles Vázques, reiterou no domingo que o projeto não terá impactos negativos na saúde e nos “diferentes setores produtivos”, afirmou que “não mudou em absoluto” desde que foi anunciado e sublinhou que antes das eleições regionais do ano passado tinha o apoio dos vários partidos representados no parlamento autonómico.

Entre 20 mil pessoas (segundo as autoridades locais) e 50 mil (segundo a organização) manifestaram-se no sábado em A Pobra (Corunha, Galiza, norte de Espanha) contra o projeto da Altri para Palas de Rei (Lugo, Galiza).

Em declarações à Lusa na véspera da manifestação, Manoel Santos, coordenador da Greenpeace na Galiza, explicou que esta é a quinta grande mobilização de oposição ao “projeto industrial mais prejudicial e agressivo das últimas décadas” para a região.

A concentração teve como objetivo convencer o Governo de Espanha “a não financiar o projeto com 250 milhões de euros de fundos europeus”, com a Greenpeace a alertar que pretende levar a contestação para tribunal.

Questionada pela Lusa, a Altri indicou, no mesmo dia, através de fonte oficial, que “as manifestações, sendo um direito democrático, não refletem o pensar do povo galego”, acrescentando que “não comenta temas políticos”.

A empresa considerou também a DIA da Xunta da Galiza ao projeto de fibras solúveis GAMA, concebido para Palas de Rei através da filial Greenfiber, “um importante reconhecimento de que o projeto industrial cumpre todas as exigências ambientais da União Europeia”.

“Não aceitamos a DIA e vamos demonstrar em tribunal que é fraudulenta, que não cumpre a diretiva ambiental galega ou europeia”, avisou Manoel dos Santos.

A localização prevista “é uma zona de alto valor ambiental que foi desprotegida pela Xunta”, disse, sublinhando que o projeto “precisa de muita água, pondo em causa o rio Ulha e a ria de Arosa”.

“A Altri quer captar 46 milhões de litros de água por dia, que é o que consome a província de Lugo ou uma cidade como Vigo. Para além disso, está previsto o derrame de 30 milhões de litros de água contaminada por dia”, criticou.

O projeto pressupõe também a plantação de mais eucaliptos, segundo Manoel Santos.

Já a Altri assegurou que, “através de um sistema de circuito fechado, irá recuperar mais de 99% dos solventes utilizados, minimizar a geração de resíduos e devolver a água captada ao meio ambiente, cumprindo os mais elevados padrões ambientais”.

A fábrica de fibras têxteis é “um projeto baseado na economia circular, onde tudo é otimizado: água, resíduos e energia”.

“Trata-se de um projeto que estabelecerá um marco na indústria têxtil da Galiza e do Noroeste Peninsular, tornando-se a primeira fábrica no mundo a integrar, num único complexo industrial, os dois processos-chave para a produção de lyocell: a transformação da madeira de eucalipto em fibras solúveis e a sua conversão direta em lyocell”, esclareceu.

O investimento previsto é superior a 1.000 milhões de euros, apontando-se a criação de cerca de 2.500 postos de trabalho, dos quais 500 serão empregos diretos numa fábrica que funcionará 24 horas por dia”.