
Governo/Crise: Empenho na redução da dívida e forte situação orçamental “atenuam riscos” sobre ‘ratings’, considera a DBRS
A Morningstar DBRS afasta para já pressões negativas da atual crise política sobre os ‘ratings’ de crédito soberano de Portugal, considerando que o “empenho na redução da dívida pública” e a “forte situação orçamental” do país “atenuam os riscos”.
“A menos que o compromisso com a disciplina fiscal enfraqueça e leve a um aumento significativo do rácio da dívida pública de Portugal a médio prazo, o que não é a nossa expectativa atual, não esperamos que esta crise política gere pressões negativas sobre os ‘ratings’ de crédito soberano”, afirma o vice-presidente sénior da Morningstar DBRS, Global Sovereign Ratings, Javier Rouillet, citado num comunicado.
Lembrando que Portugal se prepara para as terceiras eleições legislativas em menos de quatro anos, a agência de notação financeira afirma que esta situação “aumenta a incerteza política em Portugal, numa altura em que os riscos externos aumentaram significativamente e em que se acumulam pressões no sentido de aumentar as despesas com a defesa”.
“A ausência de um governo plenamente operacional poderá provocar alguns atrasos na implementação do Plano de Recuperação e Resiliência [PRR] de Portugal e adiar os planos de privatização da TAP”, admite.
Ainda assim, a Morningstar DBRS antecipa que o atual impasse político “não conduzirá a uma deterioração da solidez creditícia subjacente de Portugal”, notando que, “apesar da turbulenta situação política” dos últimos anos, o país tem registado “um elevado grau de continuidade política e um forte apoio à redução da dívida pública”.
“Parece existir um consenso entre os principais partidos políticos de que esta constitui uma âncora fundamental para a estabilidade macroeconómica e para promover o crescimento económico ao longo do tempo. A menos que o impasse político se prolongue e comece a afetar o crescimento ou a confiança no país, não esperamos que esta situação tenha um impacto significativo no desempenho económico ou nas contas orçamentais de Portugal”, sustenta.
Ou seja, remata a agência de notação, “o empenho dos principais partidos políticos na redução da dívida pública e a forte situação orçamental de Portugal e o desempenho superior do crescimento atenuam os riscos”.
A crise política em Portugal foi desencadeada há cerca de um mês após notícias sobre uma empresa familiar que pertenceu ao primeiro-ministro, a Spinumviva, levando à apresentação de duas moções de censura do Chega e PCP, ambas chumbadas.
Face às dúvidas que os partidos continuaram a manifestar, o primeiro-ministro anunciou a apresentação de uma moção de confiança, rejeitada na terça-feira, o que provocou a queda do Governo.
O Presidente da República recebe hoje os partidos políticos com assento parlamentar no Palácio de Belém para discutir a crise política e o cenário de legislativas antecipadas.
Marcelo Rebelo de Sousa tinha sinalizado que, se a moção de confiança fosse rejeitada provocando a queda do Governo, o “calendário eleitoral” apontaria para meados de maio.
O chefe de Estado nunca se referiu explicitamente à antecipação das legislativas, mas depois de ter dissolvido a Assembleia da República há cerca de um ano, após a demissão do anterior primeiro-ministro, António Costa, na sequência do processo “Influencer”, deixou entender que desta vez voltaria a optar pela mesma solução.