Governo britânico convoca nova reunião de emergência: autoridades desconfiam de interferência estrangeira nos distúrbios. Londres prepara-se para onda de violência
Na pandemia da Covid-19, o ex-primeiro-ministro britânico Boris Johnson convocou a chamada ‘reunião do Cobra’ para enfrentar a crise: desde então, o termo tem sido utilizado para uma reunião de emergência de alto nível proposta pelo Governo para coordenar uma resposta a situações de emergência.
Apenas um mês após ter vencido as eleições, o atual primeiro-ministro Keir Starmer convocou esta segunda-feira a primeira ‘reunião do Cobra’ do seu mandato – prepara-se para presidir esta terça-feira à segunda reunião – com o objetivo de pôr fim à situação caótica no país, assolado por graves distúrbios, que, segundo as autoridades, provocados por ativistas de extrema-direita que se opõem à imigração, após o assassinato de três raparigas por um jovem de pais ruandeses.
Após a primeira reunião, Keir Starmer enfatizou a necessidade de uma resposta rápida e eficaz. “Pedi a identificação dos envolvidos para que sintam todo o peso da lei o mais rapidamente possível”, declarou, sublinhando que o “direito penal se aplica tanto (a atos) online como offline”. “Não toleraremos ataques a mesquitas ou às nossas comunidades muçulmanas”, garantiu, apontando que “qualquer pessoa que incite à violência, seja online ou pessoalmente, pode ser processada e enfrentar prisão”.
Apesar dos ataques nas ruas inglesas, Downing Street deixou claro que “a polícia sabe claramente que tem os poderes e os recursos necessários para proteger as comunidades e manter as pessoas em segurança”, razão pela qual “não foi feito qualquer pedido de assistência militar”.
No entanto, de acordo com um porta-voz do Governo britânico, a possível interferência estrangeira tem sido vista como um fator-chave na desinformação que alimentou a agitação e, embora não tenha mencionado o nome da Rússia, diversos órgãos de comunicação social britânicos citaram fontes governamentais que apontaram o dedo a atores estatais estrangeiros, em particular meios de comunicação russos.
Entre eles está o ‘Channel3Now’, que se apresenta como um legítimo meio de comunicação americano, mas na realidade atua como disseminador de informações falsas, espalhando que o suspeito do assassinato era um requerente de asilo que chegou através do Canal.
As reivindicações foram amplificadas por figuras de extrema-direita como Stephen Christopher Lennon, conhecido como Tommy Robinson, e o polémico influencer Andrew Tate – as publicações sobre o fictício Ali Al-Shakati alcançaram milhões de visualizações, alimentando a raiva e o descontentamento. Segundo o porta-voz de Starmer, “a desinformação que temos visto online atrai a amplificação da atividade de bots conhecidos, que, como já disse, podem estar ligados a atividades apoiadas por outros estados”.
Os tumultos resultaram, até ontem, na detenção de 378 pessoas, segundo o Conselho Nacional de Chefes de Polícia (NPCC). “Esperamos que este total aumente a cada dia”, sustentou o NPCC, acrescentando que “está a trabalhar 24 horas por dia para o conseguir”.
Londres promete resposta dura
A Polícia Metropolitana prometeu proteger Londres de “uma das piores ondas de desordem violenta da última década”, uma vez que estão previstos mais protestos para esta quarta-feira.
De acordo com o vice-comissário assistente Andy Valentine, que está encarregado da operação policial, “este país está a enfrentar uma das piores ondas de desordem violenta da última década. Este é um incidente crítico nacional e faremos tudo o que estiver ao nosso alcance para proteger Londres e suas comunidades”.
“Sabemos sobre os eventos planeados por grupos odiosos e divisivos pela capital. Eles deixaram bem clara sua intenção de causar perturbação e divisão. Não toleraremos isso nas nossas ruas. Usaremos todo o poder, tática e ferramentas disponíveis para evitar mais cenas de desordem”, referiu.