Ganhar uma casa (e não só) por cinco euros? Rifas online para habitação já chegaram a Portugal

Comprar uma casa por menos do que custa uma raspadinha está longe de ser uma piada: está a acontecer mesmo. O método? Rifas online. A prática, que começou a ganhar força no Reino Unido e Irlanda, já chegou a Portugal — e há até uma moradia no Algarve à espera de um novo dono, por pouco mais de cinco euros. A história é contada pela revista Sábado e envolve criatividade, lucros inesperados e um bocadinho de sorte.

Imelda Collins, uma técnica de saúde pública irlandesa de 52 anos, decidiu rifar a sua casa de campo no norte da Irlanda por apenas 6 euros por bilhete. Inspirada por outra mulher que fez o mesmo com um apartamento em Dublin para se mudar para Paris, Collins embarcou na aventura com a ajuda da plataforma britânica Raffall.com. “Achei a história dela parecida com a minha”, contou ao New York Times, explicando que queria mudar-se para Itália, onde viveu 12 anos e conheceu o marido. Após um estudo detalhado do processo e da plataforma, concluiu que poderia ganhar mais dinheiro por esta via do que vendendo pelo método tradicional.

A casa de Collins, situada perto de Sligo, foi comprada por €133 mil em 2022 e remodelada, tendo agora uma estimativa de valor a rondar os €300 mil. No sorteio, colocou à venda 150 mil rifas a 5 libras (cerca de €5,93) cada, o que totalizaria quase €890 mil. A propriedade incluía dois quartos, sala, cozinha, casa de banho, um amplo jardim com 700 m² e até o sótão, sendo vendida mobilada — com exceção de um objeto sentimental. Se não atingisse o total de bilhetes previstos, poderia optar por doar 50% da receita ao vencedor, ficando com a casa e os restantes 40%. Mas não foi preciso: a meta foi atingida a 22 de maio e a feliz contemplada foi Kathleen Spangler.

O processo, no entanto, não é apenas clicar num botão. Collins teve de contratar um profissional de marketing, pagar taxas à plataforma e divulgar a campanha nas redes sociais e media. Além disso, arcou com os custos legais do vencedor, o imposto de selo e ainda se comprometeu com uma “generosa doação” à Sociedade Irlandesa para a Prevenção da Crueldade contra os Animais. Sem esquecer os 33% de imposto sobre mais-valias cobrados na Irlanda.

E esta tendência já chegou a Portugal. No site da Raffall, está em curso o sorteio de uma moradia algarvia, com piscina, vista panorâmica, árvores de fruto, oliveiras e até uma videira. Com 174 m² de área construída em 597 m² de terreno, a casa inclui dois quartos, sala ampla e um anexo. Cada bilhete custa também £5 (€5,93) e, para ser sorteada, exige-se a venda de pelo menos 120 mil rifas — ou seja, cerca de €711.600. Se o número mínimo não for atingido até 20 de setembro (data do sorteio), o vencedor receberá 50% da receita total em dinheiro.

Este modelo levanta dúvidas legais em Portugal. Paulo Caiado, presidente da Associação dos Profissionais e Empresas de Mediação Imobiliária de Portugal (APEMIP), considera que esta prática se aproxima mais de um jogo do que de uma operação imobiliária convencional. “Não sei como isto se aplica no nosso país, mas estamos claramente a falar de jogo em que o prémio é uma casa. O modelo até pode ser bem-sucedido se todas as exigências legais forem cumpridas”, comentou à revista Sábado.

Com mais de quatro milhões de utilizadores, a Raffall garante operar “dentro da lei” e sorteia não só imóveis, mas também viagens, carros, telemóveis e até carne. Desde o início da pandemia, a plataforma britânica já sorteou, segundo o New York Times, 18 propriedades. Agora, a nova tendência pode mudar a forma como alguns olham para o mercado imobiliário — ou, pelo menos, para a sorte.