Fuga de cinco reclusos em Vale de Judeus: guardas negam negligência apesar de 196 câmaras em funcionamento

Os dois guardas prisionais do Estabelecimento Prisional de Vale de Judeus, onde ocorreu a fuga de cinco reclusos, negam qualquer responsabilidade ou negligência no incidente, que foi registado por um sistema de videovigilância com 196 câmaras. A fuga, que ocorreu no sábado, foi apenas detetada 40 minutos após ter sido captada pelas câmaras de segurança. Este caso tem levantado preocupações sobre a segurança e a vigilância nas prisões portuguesas.

Guardas ouvidos em auditoria interna
Pedro Proença, advogado do Sindicato Nacional do Corpo da Guarda Prisional, afirmou aos jornalistas que os dois guardas foram ouvidos pelos Serviços de Auditoria Interna da Direção-Geral dos Serviços Prisionais e que negam veementemente qualquer culpa. “Os guardas envolvidos neste caso negam qualquer responsabilidade e afirmam ter cumprido as suas obrigações profissionais de forma estrita”, garantiu o advogado.

Segundo Proença, no momento da fuga, “havia 196 câmaras a funcionar e um guarda no CCTV durante um turno de uma hora”. Além disso, frisou que esta fase da investigação é ainda preliminar, focada na “identificação de possíveis falhas”, sem qualquer trabalhador do sistema prisional constituído arguido, nem a nível disciplinar, nem criminal.

Durante a fuga, havia apenas um guarda de serviço na sala de CCTV, como é habitual no turno. Proença explicou que “na unidade de segurança, que é responsável pela videovigilância, só está escalado um guarda por turno”. No entanto, o advogado esclareceu que o guarda que estava de serviço no momento da fuga tinha rendido um colega que foi transferido para a vigilância de visitas.

À hora da fuga, outros guardas estavam destacados noutras áreas do estabelecimento, incluindo quatro na zona de visitas, juntamente com uma equipa da Polícia Judiciária (PJ). “A área de recreio, de onde ocorreu a fuga, é considerada segura e não tem guardas prisionais presentes durante o recreio, devido à falta de recursos humanos”, explicou Proença.

Fuga planeada ao detalhe
A fuga envolveu cinco reclusos, incluindo dois cidadãos portugueses e três estrangeiros, condenados por crimes graves como tráfico de droga, roubo e associação criminosa. A operação foi planeada meticulosamente, com os cúmplices a montar um abrigo de perfil militar fora da área de vigilância. Nesse local, foram encontradas latas de refrigerante, sugerindo que os cúmplices permaneceram nas imediações da prisão antes da fuga.

“A abordagem ao muro do estabelecimento foi tática, típica de operações militares, o que indica que os cúmplices têm preparação militar especial”, afirmou Proença. Ao contrário de especulações, o advogado negou que os reclusos tivessem usado lençóis para escalar os muros, afirmando que a fuga foi realizada a partir do pátio de recreio, sem vigilância direta.

Apesar das falhas na vigilância, Pedro Proença assegurou que a resposta das autoridades foi rápida. “O primeiro inspetor da Polícia Judiciária chegou ao estabelecimento prisional 20 minutos após a escada usada na fuga ter sido descoberta”, afirmou. O advogado refutou as alegações de que as autoridades teriam demorado cerca de duas horas a responder ao incidente, garantindo que “a GNR e a PJ foram acionadas de forma célere”.

A fuga dos cinco reclusos, registada às 09h56 de sábado, só foi detetada quando os reclusos não regressaram às celas. Os fugitivos incluem Fernando Ribeiro Ferreira, Fábio Fernandes Santos Loureiro (Portugal), Shergili Farjiani (Geórgia), Rodolf José Lohrmann (Argentina) e Mark Cameron Roscaleer (Reino Unido), com idades entre os 33 e os 61 anos. As penas destes homens variam entre sete e 25 anos de prisão por crimes como tráfico de droga, associação criminosa, sequestro e branqueamento de capitais.

A investigação continua em curso, com as autoridades a procurarem determinar se as falhas ocorreram a nível humano ou estrutural. Outros guardas prisionais e reclusos da mesma ala serão ouvidos nos próximos dias.

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