
Ford vs Musk: como os multimilionários tentam influenciar a Casa Branca?
Desde o nascimento dos Estados Unidos como país, há quase 250 anos, há diversos momentos em que os milionários foram tentados a influenciar a classe política: com mais ou menos sucesso, proximidade ou discrição, tentaram pressionar os diferentes presidentes americanos para proteger as suas indústrias, impulsionar os seus negócios, combater impostos ou simplesmente fazer com o que o poder político fosse sensível às suas preocupações.
Os milionários têm vários recursos que os ajudam a obter influência junto do presidente – sobretudo o ‘favorito’ dos candidatos à Casa Branca: o financiamento das campanhas eleitorais. No entanto, ao longo da história, lembrou o jornal espanhol ‘El Economista’, nunca houve um tão próximo do poder, com tanta importância e tanta responsabilidade como Elon Musk.
Não há precedentes de um relacionamento tão intenso como o do homem mais rico do mundo e o presidente dos EUA, Donald Trump. O multimilionário não apoiou apenas economicamente – embora tenha investido mais de 250 milhões de dólares durante a campanha presidencial -, mas também o apoio público, não só nas redes sociais – o jeito que dá ser o dono do ‘X’… -, mas também com a participação em atos de campanha.
A recompensa? Elon Musk foi nomeado para dirigir o novo DOGE, o departamento de eficiência do Governo. O objetivo? Desmantelar a burocracia, reduzir regulamentos excessivos, cortar despesas e eliminar as agências federais – ou seja, uma auditoria completa ao funcionamento do Governo federal.
Está longe de ser o primeiro, mas é sem dúvida o que chegou mais longe. Magnatas do séc. XX, como Cornelius Vanderbilt, John D. Rockefeller ou Andrew Carnegie, acumularam uma enorme riqueza em negócios apoiados pelos diferentes Governos, com monopólios autênticos, mas em momento algum com porta escancarada na Casa Branca.
Casos como o JP Morgan, cuja proximidade ao Governo era palpável – uma vez que teve de o resgatar em várias ocasiões -, mas nunca com uma posição cimeira na Administração. Mais tarde, William Randolph Hearts, o magnata da imprensa que passou a ter muita influência.
Tão exclusiva é a posição atual de Elon Musk sobre Trump que, provavelmente, só se encontra um caso comparável na história: Henry Ford. As duas figuras têm muitos pontos em comum: a começar pelo facto de terem enriquecido a partir da indústria automóvel, que conseguiram revolucionar. Ford, que dinamizou o setor com a produção em massa, transformou um produto de luxo em algo acessível; já Musk, com a Tesla, voltou a revolucionar a indústria com a produção de veículos elétricos.
A nível pessoal, há também semelhanças mais ‘sombrias’: a predileção por teorias da conspiração e a sua disseminação, bem como a preferência por partidos de extrema-direita na Alemanha. Henry Ford tornou-se o homem de negócios favorito de Adolf Hitler, que ele dizia ser a sua inspiração.
A nível empresarial, partilham o seu ódio aos sindicatos, o controlo excessivo sobre funcionários – incluindo ameaças e táticas de espionagem – e um modelo de gestão autoritário. Por último, partilham entusiasmo pelo debate público de ideias que, em muitos casos, vão para além da sua especialidade – Ford, tal como Musk, ‘cavalgou’ a onda da fama para partilhar perspetivas de vida cada vez mais ousadas, mesmo controversas. A grande diferença entre Elon Musk e Ford provavelmente tem a ver com o facto de que, enquanto Trump adora o magnata sul-africano, Franklin D. Roosevelt desprezava Ford.