Finlândia reforça vigilância na fronteira com a Rússia e admite estar “a preparar-se para o pior”

A Finlândia está a intensificar a sua vigilância ao longo da fronteira oriental com a Rússia, à medida que Moscovo reforça a sua presença militar na região. A revelação foi feita pelo major-general Sami Nurmi, chefe de estratégia das Forças de Defesa da Finlândia, que garantiu que o país está “a preparar-se para o pior”, numa altura em que imagens de satélite denunciam novas construções militares russas nas proximidades.

“A Rússia está a alterar estruturas e vemos preparativos moderados ao nível da construção de infraestruturas junto à nossa fronteira”, afirmou Nurmi em declarações ao The Guardian. O militar considera que, após o eventual fim da guerra na Ucrânia, será previsível o regresso das tropas russas, especialmente das forças terrestres, às bases próximas da Finlândia. “Eles vão, assim que a guerra na Ucrânia terminar — esperamos nós —, começar a trazer de volta as forças que estiveram a combater, principalmente as forças terrestres.”

Embora ainda em fase inicial, o reforço russo inclui a instalação de tendas militares, viaturas de combate, obras de renovação em abrigos de aviões de combate e a construção numa base de helicópteros anteriormente desativada. Segundo imagens de satélite publicadas pelo New York Times, estes movimentos fazem parte de uma tendência mais alargada de reposicionamento militar da Rússia nas zonas próximas da fronteira com a NATO, nomeadamente a fronteira finlandesa.

Resposta finlandesa inclui novo muro fronteiriço
Como resposta a esta crescente pressão, a Finlândia anunciou esta quarta-feira a conclusão dos primeiros 35 quilómetros de uma cerca de segurança planeada para se estender ao longo de 200 quilómetros da sua fronteira oriental com a Rússia. A construção foi motivada por aquilo que Helsínquia classificou como uma “operação híbrida” por parte de Moscovo, que estaria a direcionar requerentes de asilo para território finlandês como forma de desestabilização.

A nova barreira fronteiriça, equipada com câmaras e sensores capazes de distinguir entre seres humanos e animais, surge após mais de um ano de encerramento oficial da fronteira, numa decisão tomada por motivos de segurança nacional.

Apesar das movimentações, Nurmi sublinha que o número de tropas e a dimensão das infraestruturas russas ainda são limitados. “Estão a fazer isto por fases. Diria que são números ainda moderados. Não se trata de grandes construções, mas sim de obras pontuais e da introdução de novos equipamentos em determinadas zonas”, precisou o major-general, ressalvando que é necessário interpretar estas movimentações com prudência: “É preciso avaliar se estão a preparar o envio de mais tropas para a Ucrânia ou se se trata de uma estratégia para reforçar as forças junto à nossa fronteira. Provavelmente será uma combinação dos dois.”

Questionado sobre o grau de ameaça representado por estas movimentações, Nurmi afirmou que não existe, para já, “nenhuma ameaça militar imediata contra a Finlândia ou contra a NATO a partir desta direção”. No entanto, reiterou a importância de manter uma postura de alerta constante. “É o nosso trabalho, enquanto membros da NATO, estarmos preparados para o pior.”

Recorde-se que a Finlândia aderiu à Aliança Atlântica em tempo recorde em 2023, na sequência da invasão russa da Ucrânia. Essa decisão foi lida por Moscovo como uma provocação, tendo o Kremlin prometido rever a sua postura militar em resposta.

Nurmi explicou que essa mudança de atitude foi imediata: “O que aconteceu logo após o ataque russo à Ucrânia foi que apresentámos a candidatura à NATO e, quando fomos aceites, a Rússia anunciou que começaria a alterar a sua postura militar ao longo da nossa fronteira.”

Preparação cívica continua a mobilizar cidadãos
Apesar de a questão da segurança fronteiriça não estar a dominar as conversas no quotidiano da capital finlandesa, Helsínquia, a população mantém-se mobilizada e consciente da nova realidade geopolítica. A Associação Nacional de Preparação para Emergências das Mulheres Finlandesas (conhecida como Nasta) tem registado uma procura constante pelos seus cursos de formação desde 2022, ano em que o interesse disparou.

Mais de 800 mulheres candidataram-se ao curso de primavera de 2025, com a maioria das vagas a esgotar em apenas três a quatro minutos. Os cursos incluem treino em situações de emergência, como incêndios, primeiros socorros e utilização de armas.

Ainda assim, Suvi Aksela, responsável pela comunicação e organização da associação, garante que o reforço militar russo não tem causado alarme entre os cidadãos. “Não é algo particularmente preocupante para nós”, disse ao The Guardian. “Estamos habituados a ouvir ameaças vindas da Rússia. Sabíamos que, depois de aderirmos à NATO, eles iriam aumentar a sua presença junto à fronteira — e provavelmente vão fazê-lo, porque são russos.”

Em Washington, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, minimizou as movimentações russas, afirmando esta terça-feira que não está “minimamente preocupado”. Segundo o chefe de Estado norte-americano, “a Finlândia e a Noruega vão estar muito seguras”.