Falso McDonald’s na Rússia pressiona Putin para barrar regresso de empresas ocidentais

A cadeia de restauração russa Vkusno i tochka, que ocupou o lugar do McDonald’s após a saída da multinacional dos EUA do mercado russo em 2022, está a pressionar o Kremlin para impedir o regresso de empresas ocidentais ao país.

O apelo foi feito diretamente ao presidente Vladimir Putin numa reunião televisionada em maio, em que o CEO da rede, Oleg Paroev, alertou para os riscos de uma eventual recompra por parte da antiga controladora americana, rvela o ‘Financial Times.

“Se a marca retornar, os sistemas de TI tornar-se-ão estrangeiros novamente, todos os equipamentos de cozinha serão estrangeiros”, disse Paroev. “E todo o enorme trabalho dos nossos colegas e parceiros russos acabará, até certo ponto, em vão.”

Putin respondeu com sarcasmo: “Lembrem-se da famosa piada: ‘Só os covardes pagam as suas dívidas’. É o mesmo caso aqui.” O presidente russo garantiu que já instruiu o governo a encontrar uma solução legal para impedir a concretização dessas cláusulas de recompra.

A Vkusno i tochka, criada por Alexander Govor — ex-franqueado do McDonald’s — após a invasão russa da Ucrânia, lidera agora o setor da fast food no país, servindo cerca de 2 milhões de clientes por dia e registando receitas de 187 mil milhões de rublos (2,4 mil milhões de dólares) em 2024, quase o triplo do valor obtido antes da guerra.

Pouco antes da reunião no Kremlin, foi apresentado um projeto de lei que permite a empresas russas ignorarem acordos de recompra com multinacionais caso o valor acordado inicialmente esteja abaixo do valor atual dos ativos. Segundo fontes citadas pelo Financial Times, a proposta terá surgido após intenso lobby da Vkusno i tochka.

A tendência protecionista russa contrasta com declarações anteriores de Putin, que chegou a sugerir regras para o eventual regresso de empresas ocidentais, na sequência de promessas do ex-presidente dos EUA, Donald Trump, de restaurar relações comerciais com Moscovo. Contudo, com o processo de paz na Ucrânia estagnado, essa reaproximação parece cada vez mais improvável.

Empresas russas de tecnologia também pressionam o Kremlin por mais proteção. Recentemente, mais de 300 empresas de TI enviaram uma carta conjunta a pedir medidas para evitar o retorno de concorrentes estrangeiros. Putin respondeu com firmeza: “Eles estão a tentar estrangular-nos, então temos de retribuir.”