
Extrema-direita francesa sob pressão por ligações a grupos racistas nas redes sociais
A União Nacional, partido francês de extrema-direita liderado por Marine Le Pen, está novamente sob escrutínio público após a divulgação de um relatório que alega que nove deputados do partido integravam um grupo privado no Facebook onde circulavam conteúdos considerados racistas e discriminatórios.
A denúncia partiu da publicação online Les Jours, que investigou um grupo da rede social intitulado “La France avec Jordan Bardella” — numa referência ao presidente do partido, Jordan Bardella — onde foram detetadas mensagens de teor antissemita, homofóbico, islamofóbico e abertamente racista. O grupo teria, segundo Les Jours, mais de 11 mil membros e estaria administrado por assessores parlamentares, antigos candidatos da União Nacional e responsáveis locais do partido.
Até à manhã desta quinta-feira, o grupo já não era acessível na plataforma, tendo sido aparentemente removido ou tornado privado.
Perante a polémica, o partido apressou-se a desvalorizar as alegações. Sébastien Chenu, vice-presidente da União Nacional, declarou esta quinta-feira à rádio FranceInfo que os deputados visados não tinham consciência do tipo de publicações que circulavam no grupo. “Quando se recebe um convite para entrar num grupo chamado La France avec Jordan Bardella, sendo militante da União Nacional, muitas vezes pensa-se que se trata de um grupo simpático. Não se verifica necessariamente o conteúdo”, justificou Chenu.
O dirigente assegurou ainda que “nenhum dos deputados interagiu com as publicações”, reforçando que a simples presença no grupo não significa apoio aos conteúdos ali partilhados.
O caso surge numa altura particularmente sensível, após o assassinato de um homem tunisino de 46 anos no sul de França, no passado fim de semana. As autoridades francesas estão a investigar o crime como um possível ato de terrorismo com motivações raciais.
O suspeito, um cidadão francês nascido em 1971, terá publicado vídeos nas redes sociais antes e depois do crime. De acordo com informações recolhidas pela imprensa local, o seu perfil no Facebook continha republicações de conteúdos de Marine Le Pen e outros dirigentes da União Nacional, bem como comentários repetidos sobre temas como imigração e islamismo.
Questionado sobre a eventual ligação entre o discurso do partido e este tipo de crimes, Chenu repudiou qualquer associação. “Quero condenar este assassinato abominável”, afirmou. “A nossa causa não se baseia na oposição racial… Esta pessoa deturpou aquilo que pensava estar a defender.”
Esta não é a primeira vez que a União Nacional — anteriormente conhecida como Frente Nacional — se vê envolta em controvérsias relacionadas com acusações de racismo, xenofobia ou incitamento ao ódio. Apesar dos esforços recentes para suavizar a imagem pública do partido, especialmente sob a liderança de Bardella e com a estratégia de normalização política conduzida por Marine Le Pen, os casos continuam a levantar dúvidas sobre a real mudança interna na estrutura e na retórica da formação política.
O caso agora revelado por Les Jours poderá reacender o debate sobre o papel das redes sociais na propagação de discursos extremistas e sobre a responsabilidade das figuras públicas — incluindo deputados — na moderação dos espaços em que participam, mesmo que de forma passiva.