Execuções, prisões e perseguições: Irão aumenta repressão ao povo após ataques de Israel

Como parte de uma repressão mais ampla à dissidência nos últimos dias, o Parlamento iraniano aprovou o projeto de lei “Aumento das penas para espionagem e para indivíduos que cooperam com o regime sionista e Estados hostis contra a segurança e os interesses nacionais”. Ou seja, uma legislação que facilita a acusação de cidadãos por espionagem.

Essa medida ocorre na sequência dos ataques israelitas que mataram dezenas de comandantes militares de alto escalão da República Islâmica, o que trouxe uma onda de desconfiança dentro do establishment político iraniano. Houve autoridades do Governo local que se acusaram mutuamente, em entrevistas públicas, de colaborar com Israel e divulgar informações confidenciais.

O novo projeto de lei, aprovado menos de uma semana após o início do conflito militar entre Irão e Israel, está sendo promovido por seus apoiantes como uma ferramenta para combater a “infiltração inimiga”. No entanto, analistas e organizações de direitos humanos alertaram que a medida legal representa uma séria ameaça às liberdades civis, à liberdade de imprensa e ao ativismo social.

De acordo com declarações oficiais vistas pelo ‘Independent Persian’, segundo este projeto de lei, enviar fotos ou vídeos para veículos de comunicação estrangeiros ou comentar sobre questões relacionadas à segurança nas redes sociais pode ser considerado “espalhar corrupção na Terra” — uma acusação que pode levar à pena de morte no Irão.

Em linha com essa política, o Departamento de Assuntos Sociais do Judiciário enviou advertências aos cidadãos através mensagem de texto, alertando-os de que seguir páginas “afiliadas ao regime sionista” nas redes sociais constitui crime. Enquanto isso, centenas de pessoas em todo o país foram presas sob acusações de “espionagem”, “perturbação da opinião pública” ou “colaboração com Israel”.

De acordo com os media iranianos, mais de 700 pessoas foram presas na semana passada, sendo que foram registadas dezenas de outras prisões desde então. Na região de Fars, no sudoeste do Irão, foram anunciadas acusações contra 47 indivíduos suspeitos de colaborar com Israel.

O Corpo da Guarda Revolucionária Islâmica (IRGC) também anunciou a prisão de 26 cidadãos na província de Khuzistão, região rica em petróleo que faz fronteira com o Iraque e o Golfo Pérsico, sob a acusação de “infiltração de segurança”. Houve também relatos de uma pessoa ter sido presa no metro de Teerão simplesmente por “movimento suspeito” e por ter consigo um chip eletrónico, que a polícia alegou ter sido usado para enviar informações sobre locais sensíveis e receber “instruções em hebraico”.

Paralelamente a essa onda de prisões, execuções precipitadas adicionaram uma dimensão profundamente preocupante à situação. Em menos de duas semanas, pelo menos seis pessoas foram executadas sob a acusação de colaboração com Israel. Entre elas estavam Esmail Fekri, Majid Masibi e Mohammad Mahdavi, condenados à morte por diversas acusações, incluindo espionagem, participação em redes cibernéticas ou transferência de equipamentos – foram sentenciados a portas fechadas, sem acesso a representação legal.

Além disso, três ‘kolbars’, carregadores que transportam mercadorias nas costas através das fronteiras do Irão, foram executados na prisão de Urmia, na região noroeste do Azerbaijão Ocidental, sob acusações semelhantes.

Organizações de direitos humanos têm repetidamente manifestado preocupação com a natureza desses julgamentos, observando que muitos veredictos são emitidos em questão de minutos, sem um processo judicial justo.

Essas ações não são meramente uma resposta a ameaças estrangeiras, mas uma ampla tentativa do Governo iraniano de controlar a sociedade, reprimir a dissidência e escapar da sua própria crise de legitimidade. A aprovação de leis vagas e abrangentes, prisões em massa, julgamentos simulados e execuções rápidas apontam para um regime que busca eliminar as vozes dissidentes do espaço público.