Europa já tem a próxima crise no horizonte: a falta de água

Ainda estamos na primavera a a Europa já está ameaçada por um cenário de seca. O problema multiplica-se e desdobra-se em vários países, e deixa antever uma ‘guerra’ pelos recursos hídricos.

Um reservatório-chave na Catalunha está a esgotar-se, há conflitos em França, com várias aldeias e vilas a não conseguirem garantir água nas torneiras e o maior rio de Itália tão seco quanto estava em junho do ano passado.

Por cá, o ministro do Ambiente já avisou que podem ser necessárias mais “medidas de contingência”, mas certo é que mais de um quarto da Europa está em seca, segundo os números de abril.

Um estudo do início do ano, com base em dados recolhidos por satélite, confirmou que a Europa está em situação de seca severa deste 2018. O aumento das temperaturas estão a tornar a recuperação deste défice mais difícil, colocando o ‘velho Continente’ preso num ciclo em que a água se vai tornando cada vez mais escassa.

Ainda que, nas próximas semanas, possam haver algumas chuvas que ajudassem a agricultura, não seria o suficiente para resolver o problema da falta de água no subsolo europeu, avisam especialistas ouvidos pelo Politico.

Já na semana passada, o primeiro-ministro espanhol Pedro Sánchez avisou que o tema “vai ser um dos debates territoriais centrais na política do século e nos anos que virão depois”.

Inverno seco
A seca do ano passado arrasou os reservatórios de água na superfície e no subsolo da Europa e o inverno era visto como um alívio. Mas muitas das regiões europeias que mais sofreram com a seca viram um inverno com pouca ou nenhuma chuva.

França, onde não caiu chuva por mais de 30 dias consecutivos entre janeiro e fevereiro, registou o inverno mais seco dos últimos 60 anos. Já em Itália, registou-se uma quebra da queda de neve de 64% até meados de abril. O rio Po está tão seco quanto no ano passado e o lago Garda já está a menos de metade do nível médio.

Já a braços com os efeitos da seca, Espanha enfrenta uma vaga de calor na próxima semana.

A precipitação do inverno é especialmente importante para os países do Mediterrâneo, assinala Fred Hattermann, hidrologista do Potsdam Institute para Investigação do Impacto Climático. Algumas chuvas de primaver nas próximas semanas, segundo o especialista, não afastariam a Europa de uma seca que “, está já trancada”.

Para que o continente quebrasse o ciclo de começar cada ano com um défice das águas disponíveis no subsolo, “precisaríamos de quase uma década de anos de grande precipitação”, avisa.

Como o aquecimento global está a secar a Europa
A seca é um fenómeno complexo e com muitos fatores em jogo. Mas as temperaturas em subida têm aumentado a pressão sobre os reservatórios de água europeus.

Hattermann explica que há três formas em que o aquecimento global torna a Europa mais seca. A primeira prende-se que, com o aumento dos termómetros, mais água irá evaporar. “Só isto já torna o continente mais seco”, explica, indicando que seria necessário um aumento equivalente da precipitação para compensar as temperaturas em sentido ascendente.

O segundo aspeto prende-se com o facto das alterações climáticas estarem a enfraquecer a Corrente de Jato europeia, o que significa que os sistemas de pressão de ar ficam ‘presos’, criando maiores períodos de condições quentes e secas, como aconteceu no ano passado, ou chuvas longas, como as que causaram as cheias e inundações em 2021.

A terceira forma diz respeito ao facto dos glaciares europeus e o volume de neve estarem a encolher rapidamente, devido às temperaturas altas, reduzindo os caudais de rios como o Danúbio ou o Po.

Andrea Toreti, investigador do Centro de Investigação Conjunta da Comissão Europeia alerta que, este verão, Espanha, o sul de Portugal, Itália e França estão particularmente vulneráveis à falta de água.

Mas não são casos únicos: também a Bulgária, a Roménia ou a Grécia apresentam sinais de enfrentarem uma seca severa este verão. Alguns países nórdicos também sentirão os efeitos do stress sobre os recursos hídricos.

Vários países estão a apresentar estratégias e ferramentas para reduzir o consumo de água e para que o seu uso seja mais sustentável, mas vários críticos apontam que pouco está a ser feito para responder à má-gestão deste recurso, que ainda é bem verificada em vários pontos da Europa.

O tema já se está a tornar numa guerra política em todo o continente, e a tendência é que a situação se agrave.

No último verão, foram impostas restrições no uso de água no Reino Unido, em França, Espanha ou Itália, levantando-se questões sobre a priorização do uso de água para infraestruturas turísticas, instalações industriais e agricultura.

Este ano, na Catalunha, já foram impostos novos limites, como uma redução obrigatória de 40% no consumo de água para a agricultura. Na Alemanha, as disputas legais sobre água duplicaram em duas décadas em, em França, as tensões entre ambientalistas e agricultores, sobre a construção de barragens, levou a confrontos no mês passado.

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