Euro Digital: “Banco central quer ter o monopólio do sistema financeiro”. Afinal, é boa ou má a sua implementação?

O Conselho do Banco Central Europeu (BCE) decidiu avançar para a fase seguinte do projeto do Euro Digital. Depois de dois anos de investigação, a moeda única digital vai entrar a partir deste mês na fase de preparação.

No entanto, nem todas as vozes estão em sintonia com o grande projeto nas mãos de Christine Lagarde. Karel Lannoo, Diretor do Centro de Estudos Políticos Europeus (CEPS), diz que “o euro digital cria mais problemas do que resolve”.

Em declarações ao ‘El Mundo’ durante uma visita a Madrid, Lannoo refere que o banco central está a pensar em criar o euro digital face à possível redução do numerário porque, caso contrário, entende que terá menos impacto no sistema financeiro.

“O banco central quer ter o monopólio do sistema financeiro para o euro digital, uma vez que será o emissor oficial de esta moeda, mas levantará uma questão aos consumidores: que euro utilizo agora, os meus euros privados ou os euros públicos?”, sublinha o especialista, acrescentando que isto nunca foi uma função do banco central, que apenas tem o objetivo de supervisionar.

De acordo com o último relatório publicado pelo CEPS sobre o euro digital, o numerário continua a ser a primeira forma de pagamento, apesar de ter diminuído um pouco desde 2019, quando representava 86% das operações, contra 73% em 2022.

Os dados mostram ainda que as transações digitais aumentaram de 480 mil milhões de dólares para 1,2 biliões de dólares entre 2016 e 2022 e deverão crescer mais 80% até 2026.

 

Fase de preparação do Euro Digital

A fase de preparação vai abrir o caminho à potencial decisão futura sobre a emissão de um Euro Digital, estabelecendo as bases, incluindo a finalização do código de regras do sistema de Euro Digital e a seleção de fornecedores para o desenvolvimento da plataforma e infraestrutura, explica o Banco de Portugal em comunicado.

Esta nova fase vai incluir também a testagem e experimentação, por forma a desenvolver um Euro Digital que satisfaça tanto os requisitos do Eurosistema como as necessidades dos utilizadores, no que respeita a fatores como experiência do utilizador, privacidade, inclusão financeira e pegada ambiental.

O Banco de Portugal explica que “o lançamento da fase de preparação não constitui uma decisão sobre a emissão de um euro digital”, acrescentando que “essa decisão só será ponderada pelo Conselho do BCE após a conclusão do processo legislativo da União Europeia”.