EUA não abandonarão a NATO, mas pode reduzir presença militar na Europa, diz almirante da Aliança

Os Estados Unidos deverão continuar comprometidos com a NATO, mas poderão reduzir a sua presença militar na Europa à medida que as suas prioridades estratégicas se voltam para a região do Indo-Pacífico. A avaliação foi feita pelo almirante Giuseppe Cavo Dragone, presidente do Comité Militar da NATO, durante a Conferência de Segurança de Munique, num momento em que os líderes europeus tentam compreender as intenções da nova administração de Donald Trump, incluindo a possibilidade de um enfraquecimento das garantias de defesa dos EUA no continente.

Em entrevista à Bloomberg à margem do encontro em Munique, Cavo Dragone, um oficial da Marinha italiana que assumiu a presidência do Comité Militar da NATO no mês passado, afastou a hipótese de uma saída completa dos EUA da aliança. “Os Estados Unidos não vão sair da NATO”, garantiu. No entanto, admitiu que uma retirada parcial das forças americanas estacionadas na Europa pode estar em consideração devido aos “compromissos que os Estados Unidos têm longe daqui, no Pacífico”.

Atualmente, os EUA mantêm cerca de 100 mil militares no continente europeu. Apesar da possibilidade de uma redução, o almirante minimizou o impacto de um eventual redimensionamento do contingente. “Não creio que haja um número muito grande de americanos retirados da Europa”, afirmou.

O Departamento de Defesa dos EUA não respondeu a pedidos de comentário sobre o assunto.

Mudança de prioridades e pressão sobre a Europa
O debate sobre o futuro da presença militar americana na Europa surge num contexto de crescente preocupação entre os aliados europeus da NATO, especialmente face à guerra na Ucrânia. A reunião em Munique teve como tema central a segurança europeia e a procura de soluções para o conflito, que já dura há três anos.

A possível redução do envolvimento militar dos EUA na Europa ganha maior relevância num momento em que Trump planeia um encontro com o presidente russo, Vladimir Putin. Muitos líderes europeus e ucranianos temem que as negociações ocorram sem a participação da Europa, o que poderia alterar os equilíbrios geopolíticos na região.

Cavo Dragone alinhou-se com outros líderes europeus que defendem um aumento do investimento em defesa para reduzir a dependência dos Estados Unidos. O almirante reconheceu que a mudança das prioridades americanas exige um reforço militar por parte dos países europeus. “Há um certo desequilíbrio, por isso precisamos de reequilibrar”, declarou, rejeitando a ideia de que a Europa não seja capaz de se defender autonomamente. “Essa noção é uma blasfémia”, afirmou.

Segundo Cavo Dragone, qualquer redução do contingente americano na Europa terá de ser gerida com uma “atitude operacional” por parte da NATO. O almirante sublinhou a necessidade de os exércitos europeus estarem preparados para preencher eventuais lacunas deixadas por um redimensionamento da presença militar dos EUA.

A incerteza sobre o papel futuro dos Estados Unidos na NATO aumenta a pressão sobre os países europeus para reforçarem as suas capacidades defensivas. Com a guerra na Ucrânia a prolongar-se e as relações entre Washington e Moscovo a evoluírem de forma imprevisível, os líderes da aliança enfrentam um momento crítico para redefinir a estratégia de segurança do continente.