
Estudo revela que composto da canábis pode proteger-nos contra fungo mortal
Dois compostos extraídos da planta Cannabis sativa demonstraram ser altamente eficazes na eliminação de um dos fungos mais perigosos do mundo, segundo um novo estudo publicado na revista PLOS Neglected Tropical Diseases a 4 de junho de 2025. Os compostos em causa – o canabidiol (CBD) e o canabidivarina (CBDV) – conseguiram erradicar o Cryptococcus neoformans, agente responsável por infeções graves como a criptococose e a meningite criptocócica, em ensaios laboratoriais conduzidos por investigadores da Universidade Macquarie, na Austrália.
O Cryptococcus neoformans é um fungo oportunista que infeta sobretudo pessoas com o sistema imunitário comprometido. Quando atinge o sistema nervoso central, pode provocar meningite potencialmente fatal. “A taxa de mortalidade é muito elevada, e é uma infeção extremamente difícil de tratar”, explicou Hue Dinh, bióloga envolvida na investigação.
CBD e CBDV mais eficazes do que tratamentos antifúngicos convencionais
No estudo, os investigadores isolaram o fungo em ambiente de laboratório e aplicaram cinco compostos diferentes da planta de canábis para avaliar a sua ação antifúngica. Os resultados foram surpreendentes: tanto o CBD, composto não psicoativo, como o CBDV, com efeitos psicoativos, eliminaram o fungo de forma rápida e eficaz — inclusive com maior rapidez do que os tratamentos antifúngicos tradicionais atualmente disponíveis.
Além do Cryptococcus neoformans, os compostos mostraram-se eficazes contra outros fungos patogénicos responsáveis por infeções comuns da pele, como a “tinea cruris” (conhecida como “jock itch”) e o “pé de atleta”.
Segundo o artigo científico, “a análise proteómica revelou que a atividade antifúngica do CBD e do CBDV está associada à desestabilização da membrana, alterações na biossíntese do ergosterol, perturbações nas vias metabólicas e envolvimento seletivo de proteínas mitocondriais”.
Testes com larvas de insectos reforçam os resultados
Para avaliar a eficácia dos compostos em organismos vivos, os cientistas recorreram ao modelo Galleria mellonella, a larva da traça-da-cera, um organismo que possui respostas imunitárias inatas semelhantes às dos mamíferos. As larvas foram sujeitas a queimaduras e divididas em grupos: um de controlo (sem infeção), outro infetado com o fungo e tratado com CBD dissolvido em sulfóxido de dimetilo (DMSO), outro tratado apenas com DMSO, e um último tratado com Anfotericina B — um dos antifúngicos mais potentes utilizados na medicina humana.
Os resultados mostraram que as larvas tratadas com CBD apresentaram taxas de sobrevivência significativamente superiores às dos grupos tratados com DMSO ou mesmo com Anfotericina B. Em alguns casos, a taxa de sobrevivência foi quase idêntica à do grupo de controlo, cujas larvas não tinham sido infetadas.
Embora o tratamento de infeções mais graves, como aquelas que atingem os pulmões ou o cérebro, envolva maior complexidade, os resultados do estudo indicam um caminho promissor para o uso tópico de compostos da canábis no combate a infeções fúngicas da pele. “Se conseguirmos demonstrar que estes compostos funcionam bem contra infeções comuns, poder-se-á, por exemplo, aplicar óleo de CBD diretamente na pele para tratar o problema”, afirmou Hue Dinh.
Este estudo destaca-se por propor uma nova abordagem terapêutica baseada em compostos já aprovados para uso humano em outros contextos, aproveitando as propriedades medicinais da canábis numa área — a das infeções fúngicas — onde a resistência aos medicamentos existentes continua a ser um desafio significativo.