Estudo revela por que nunca deve adiar o despertador — e mais de metade das pessoas fá-lo todos os dias

Uma equipa de investigadores norte-americanos acaba de lançar um sério aviso contra um hábito matinal comum a milhões de pessoas: adiar o alarme ou o despertador. A prática de prolongar o momento de se levantar por mais alguns minutos, embora tentadora, pode estar a prejudicar a qualidade do sono e, por consequência, o desempenho durante o dia.

O estudo foi conduzido por cientistas do Brigham and Women’s Hospital, em Massachusetts (EUA), e publicado na revista Scientific Reports. Através da análise de mais de 3 milhões de sessões de sono recolhidas ao longo de seis meses, os investigadores avaliaram os padrões de utilização da função de adiamento do alarme em mais de 21 mil utilizadores da aplicação Sleep Cycle, com dados provenientes de quatro continentes.

“Quando adiamos o alarme, muitos de nós acreditam que estão a conseguir mais alguns minutos de sono reparador. No entanto, esta prática é largamente desvalorizada na investigação do sono”, afirmou a principal autora do estudo, a investigadora Rebecca Robbins.

De acordo com a especialista, as fases finais do sono, particularmente as que antecedem o despertar natural, são dominadas pelo sono REM (movimento ocular rápido), uma fase considerada essencial para a consolidação da memória, o funcionamento cognitivo e a regulação emocional.

“É durante o sono REM que ocorrem os processos mais restauradores. Quando voltamos a adormecer após adiar o alarme, não conseguimos retomar o sono REM — o mais provável é entrarmos num sono leve e fragmentado, que pouco ou nada contribui para o nosso descanso”, explicou Robbins.

Por isso, o conselho dos investigadores é claro: “A melhor estratégia para otimizar o sono e o desempenho no dia seguinte é programar o alarme para o mais tarde possível e, depois, levantar-se assim que ele tocar”, reforçou a investigadora.

Dados globais revelam padrões de sono e adiamento do alarme
A análise mostrou que 55,6% das sessões de sono terminaram com a ativação da função de adiamento do alarme. Em média, os utilizadores passavam 11 minutos entre o primeiro alarme e o momento efetivo em que se levantavam. Contudo, um grupo significativo — 45% dos participantes — revelou um uso ainda mais intenso: adiavam o alarme em mais de 80% das manhãs, somando cerca de 20 minutos de adiamento diário.

Os dias úteis concentraram o maior uso da função, especialmente de segunda a sexta-feira, enquanto aos fins de semana — quando os compromissos são geralmente menores — esse padrão reduzia drasticamente.

Os investigadores também verificaram que sessões de sono mais longas (superiores a nove horas) estavam associadas a maior probabilidade de adiar o alarme. Por outro lado, deitar cedo correlacionava-se com menor tendência para o fazer.

Diferenças entre países e entre géneros
O estudo revelou ainda diferenças geográficas: os utilizadores dos Estados Unidos, Suécia e Alemanha apresentaram os níveis mais elevados de adiamento do alarme, enquanto os residentes no Japão e na Austrália mostraram os mais baixos.

Uma diferença relevante foi observada entre géneros: as mulheres adiavam mais frequentemente o alarme do que os homens. Os investigadores sugerem que tal poderá estar relacionado com o risco acrescido de insónias entre as mulheres, mas também com o maior peso das responsabilidades familiares e domésticas — incluindo os cuidados com os filhos — que se somam às exigências profissionais.

“Essa carga extra pode reduzir o tempo disponível para dormir e aumentar a probabilidade de dificuldades no sono, o que poderá justificar uma maior dependência da função de adiamento do alarme”, explicam os autores.

A análise não revelou grandes variações mensais, mas os dados do hemisfério norte mostraram um ligeiro aumento da utilização da função de adiamento em dezembro e uma redução em setembro — o oposto verificou-se no hemisfério sul, possivelmente em função das estações do ano.

Quantas horas devemos dormir?
A National Sleep Foundation recomenda entre sete e nove horas de sono por noite para adultos. Embora dormir menos do que sete horas seja prejudicial, o excesso também pode ter efeitos adversos: estudos indicam que dormir em média nove horas por noite pode acelerar o envelhecimento cerebral e aumentar o risco de problemas de memória no futuro.

O estudo agora publicado preenche uma lacuna na literatura científica sobre o uso do adiamento do alarme, mas os seus autores sublinham que é apenas o início. “São necessárias mais investigações para compreender o impacto concreto desta prática no desempenho diário e na saúde a longo prazo”, concluem os cientistas.

Até lá, o conselho é simples e direto: se puder dormir até mais tarde, aproveite — mas levante-se ao primeiro toque. O seu cérebro agradece.