Este painel que parece “plástico bolha” é a solução para extrair água potável até nos desertos

Uma equipa do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) desenvolveu um novo tipo de coletor de água atmosférica que funciona sem qualquer fonte de energia e que poderá revolucionar o acesso à água potável em regiões com escassez extrema. Testado no Vale da Morte, na Califórnia — uma das regiões mais áridas do planeta — o dispositivo conseguiu recolher mais de 50 mililitros de água potável por dia, apenas a partir da humidade do ar.

Este protótipo, com o aspeto de um painel preto semelhante a “plástico bolha”, é constituído por um hidrogel inovador que combina álcool polivinílico (PVA), cloreto de lítio (um sal altamente higroscópico), glicerol e tinta preta. A forma “encaroçada” foi desenvolvida para maximizar a área de contacto com o ar e, assim, aumentar a captação de vapor de água, especialmente durante a noite, quando a humidade relativa do ar é mais elevada. “Através do nosso trabalho com materiais macios, sabemos que o hidrogel é excelente a absorver água do ar”, explicou Xuanhe Zhao, engenheiro mecânico do MIT.

A grande inovação está na capacidade de recolha sem dependência de painéis solares ou energia elétrica. O sistema passivo é composto por um painel vertical onde o hidrogel é sandwiched entre placas de vidro. Durante o dia, o calor solar evapora a água absorvida durante a noite. Esta condensa-se nas superfícies de vidro mais frias e escorre por canais incorporados, permitindo a recolha por gravidade. Um polímero de revestimento contribui para manter o painel fresco, otimizando o processo de condensação.

Em experiências conduzidas no deserto do Vale da Morte, onde a humidade é extraordinariamente baixa devido à presença de quatro cadeias montanhosas que bloqueiam a passagem de nuvens, o sistema demonstrou eficiência. O painel atraiu até 160 mililitros de vapor de água durante a noite. “Este é apenas um design de prova de conceito”, afirmou Chang Liu, também engenheiro mecânico do MIT. “Estamos já a trabalhar numa próxima geração do material para melhorar ainda mais as suas propriedades intrínsecas.”

Um dos desafios anteriores na recolha de água atmosférica era o risco de contaminação da água com os próprios materiais do sistema, como sais e metais. A equipa do MIT garante que o novo hidrogel foi projetado para conter o cloreto de lítio de forma segura, com a ajuda do glicerol, evitando contaminações. A solução, segundo os investigadores, representa “um avanço rumo a soluções práticas, escaláveis, seguras e sustentáveis para regiões com stress hídrico extremo”, lê-se no artigo publicado na Nature Water.

Apesar do sucesso técnico, os cientistas alertam que o verdadeiro impacto dependerá da capacidade de escalar e distribuir o sistema às populações mais necessitadas. “Agora, as pessoas podem construir sistemas maiores ou usar painéis em paralelo, para fornecer água potável e alcançar um impacto real”, sublinhou Zhao. Com mais de 4,5 mil milhões de pessoas no mundo sem acesso regular a água potável, esta tecnologia poderá marcar uma viragem decisiva.