“Estamos a sentir uma desaceleração em termos de investimento” early stage nas startups no país, diz Presidente da Investors Portugal
A Investors Portugal, que nasceu da convergência da APBA (Associação Portuguesa de Business Angels) e da FNABA (Federação Nacional de Business Angels), para representar os investidores early stage em Portugal, abriu na esta quinta-feira, dia 27, as portas ao Investors Portugal Dinner, a sua iniciativa anual para celebrar e discutir o panorama de investimento early stage nas startups no país.
Em declarações à ‘Executive Digest’, Lurdes Gramaxo, Presidente da Investors Portugal, explicou como está o panorama de investimento early stage nas startups no país, assim como quais são os principais interesses dos investidores early stage em Portugal.
Qual a motivação para a criação da Investors Portugal?
A Investors Portugal resultou de uma visão partilhada entre duas associações, que representavam o setor, a FNABA – Federação Nacional de Business Angels e a APBA – Associação Portuguesa de Business Angels, no sentido de unir esforços entre elas. Assim, em 2021, o alinhamento de objetivos resultou nesta convergência, em que a prioridade se tornou a de trabalhar em uníssono em prol do ecossistema de startups do país.
Como está o panorama de investimento early stage nas startups no país?
Estamos a sentir uma desaceleração em termos de investimento nesta fase, que se deve sobretudo à falta de previsibilidade do panorama global atual. No entanto, o nosso ecossistema continua vibrante: só o ano passado foram registados mais de mil milhões de euros investidos em startups de tecnologia em Portugal, segundo a plataforma DealRoom; os investidores estrangeiros continuam a ser atraídos para o nosso país e temos testemunhado a criação de mais startups. O último semestre registou, da mesma forma, um investimento bastante elevado, mas notamos de facto uma maior dificuldade em levantar rondas de investimento.
Quais são os principais interesses dos investidores early stage em Portugal? E as principais preocupações?
Os investidores em early stage no nosso país procuram, regra geral, startups tecnológicas em variados setores, desde que com a capacidade de escalar e cujos fundadores demonstrem características resilientes para dar bom rumo ao projeto. As preocupações recaem sobretudo sobre duas vertentes, sendo elas os investimentos já existentes e os follow-ons. Ou seja, a questão coloca-se em relação à capacidade de o setor manter o crescimento sentido nos últimos tempos ou se, na realidade, irá tender para uma estagnação derivada das dificuldades que começamos a sentir. Antecipando algum arrefecimento no investimento, as start-ups deverão, mais uma vez, tomar medidas de controlo de custos, adiar investimento, antecipar rondas de financiamento e outras medidas com vista ao prolongamento das disponibilidades de tesouraria. De qualquer forma, a história recente diz-nos que bons projetos e boas equipas acabam sempre por arranjar financiamento.
No entanto, somos da opinião que é em situações menos favoráveis que surgem as melhores oportunidades, e não temos razões para acreditar que este contexto traga algo de diferente nesse aspeto.
Sendo que foi lançada em Portugal há um ano, em outubro de 2021, como estão os números em termos de associados e parceiros? Quais são as perspetivas para o próximo ano?
Neste momento, a Investors Portugal representa mais de 300 business angels e mais de 25 capitais de risco e entidades veículo que, no seu conjunto, detêm mais de 1000 milhões de euros sob gestão e cerca de 500 startups nos seus portfolios. E as perspetivas são de crescimento.
A estratégia passará por juntar novos associados, nacionais e internacionais a operar em Portugal e incrementar as relações além-fronteiras. Pretendemos também aumentar a nossa presença no ecossistema empreendedor nacional através do estabelecimento de parcerias com atores importantes do setor: incubadoras, aceleradoras, universidades e centros de transferência de tecnologia. Acreditamos que este deve ser o nosso rumo porque temos a consciência de que a força de um ecossistema depende em muito da capacidade de network e de partilha.
Como viram os vossos associados e parceiros o ano em que se iniciou a guerra no mercado de investimentos?
Os primeiros seis meses indiciaram um forte início de ano, mas sente-se algum abrandamento ou apreensão, devido ao contexto de grande incerteza política e à consequente falta de previsibilidade.
Nos mercados de capital de risco, já se está a assistir a um abrandamento, que se tem sentido mais nas rondas de later stage e nos exits, com menos IPO’s e menos operações de M&A, mas que pode, a perdurar no tempo esta situação, vir a refletir-se em toda a cadeia de crescimento e dificultarem as rondas seed e até pre-seed, se os investidores destas fases pressentirem o risco de falta de liquidez para as rondas subsequentes. As valorizações também podem vir a refletir um decréscimo se houver menos liquidez no mercado. No entanto, para as startups de grande potencial haverá sempre liquidez e, muitas vezes, como já disse, é em tempos mais complexos que se podem construir as grandes oportunidades.