Estados Unidos advertem Coreia do Norte contra ataque nuclear e expressam “grave preocupação” com possível escalada
Os Estados Unidos emitiram uma advertência severa à Coreia do Norte, afirmando que qualquer ataque nuclear lançado por Kim Jong Un significaria o fim do seu regime. A declaração foi feita pelo Secretário de Defesa dos EUA, Lloyd Austin, na quarta-feira, após o líder norte-coreano ter realizado mais um teste de míssil balístico intercontinental (ICBM).
Austin, junto ao seu homólogo sul-coreano, Kim Yong-hyun, encontrava-se em Washington para a 56.ª Reunião Consultiva de Segurança EUA-Coreia do Sul, onde ambos reafirmaram a importância da aliança entre os dois países como um “pilar da paz, estabilidade e prosperidade na Península Coreana.” Em comunicado conjunto emitido após a conferência, os dois líderes expressaram “grave preocupação” com a expansão contínua dos programas de mísseis balísticos e nucleares da Coreia do Norte, condenando os frequentes lançamentos de mísseis, as tentativas de lançamento de satélites espiões e o envio de armamento para a Rússia, violando sanções internacionais.
Austin reiterou o compromisso dos EUA com a defesa da Coreia do Sul, prometendo dissuasão prolongada através do “guarda-chuva nuclear” americano e das capacidades militares convencionais. “Qualquer ataque nuclear da RPDC (República Popular Democrática da Coreia) contra os Estados Unidos ou seus aliados e parceiros é inaceitável e levaria ao fim do regime de Kim”, afirmava o comunicado, referindo-se à Coreia do Norte pelo seu nome oficial.
Simulações de guerra e ameaça nuclear
Os chefes de defesa dos EUA e da Coreia do Sul elogiaram ainda os resultados dos recentes exercícios militares conjuntos em grande escala realizados na Coreia do Sul. Ambos destacaram a importância de manter treinamentos futuros que simulem cenários realistas de guerra, incluindo situações de ataque nuclear por parte da Coreia do Norte.
“O risco nuclear e balístico da Coreia do Norte é agora uma ameaça existencial, não apenas para a República da Coreia (ROK), mas também para toda a região do Indo-Pacífico”, afirmou o Ministro da Defesa sul-coreano, Kim Yong-hyun, numa conferência de imprensa após a reunião. Os dois países também condenaram com firmeza o fortalecimento das ligações militares entre a Coreia do Norte e a Rússia, com Kim salientando que o regime de Pyongyang tem fornecido armamento a Moscovo e, alegadamente, enviado milhares de soldados para apoiar a guerra ilegal da Rússia na Ucrânia. Austin e Kim comprometeram-se a coordenar os esforços com a comunidade internacional para lidar com esta situação.
Possíveis trocas tecnológicas entre Coreia do Norte e Rússia
Kim Yong-hyun advertiu que, apesar de não acreditar que a presença de tropas norte-coreanas na Rússia aumente diretamente as hipóteses de uma guerra entre as Coreias, é provável que Pyongyang procure em troca transferências tecnológicas em diversas áreas. Segundo Kim, essas transferências tecnológicas poderiam incluir avanços em mísseis balísticos intercontinentais (ICBMs), armas nucleares táticas, submarinos com capacidade de lançamento de mísseis balísticos e satélites de vigilância. Estes recursos, se obtidos, poderiam agravar ainda mais as tensões na Península Coreana.
Lançamento de míssil e resposta dos EUA
Poucas horas após o encontro entre Austin e Kim, a Coreia do Norte lançou um ICBM a partir de um local próximo a Pyongyang. De acordo com o Ministério da Defesa do Japão, o projétil foi lançado às 07h11, hora local, atingindo uma altitude máxima de cerca de 4.300 metros e viajando em direção ao Mar do Japão (chamado Mar do Leste na Coreia), onde caiu após permanecer no ar por aproximadamente 86 minutos, o período mais longo registado para um míssil norte-coreano até o momento.
A resposta internacional não tardou: o Comando Indo-Pacífico dos EUA emitiu uma declaração a condenar o lançamento e apelou para que Pyongyang “se abstenha de ações ilegais e desestabilizadoras.” Em comunicado transmitido pela mídia estatal norte-coreana, o Ministério da Defesa do país justificou o lançamento como uma demonstração de “modernidade e credibilidade” da sua dissuasão estratégica, que descreveu como “a mais poderosa do mundo.” O regime norte-coreano acusou os seus “rivais” de aumentar as tensões e ameaçar a sua segurança através de “alianças nucleares e manobras militares aventureiras,” situação que, segundo o regime, leva Pyongyang a intensificar a sua resposta estratégica e nuclear.
Escalada de testes de mísseis sob o regime de Kim Jong Un
Desde que assumiu o poder há 13 anos, Kim Jong Un ordenou mais de 236 testes de mísseis com capacidade de percorrer pelo menos 300 quilómetros e transportar cargas de pelo menos 500 quilogramas, de acordo com uma base de dados mantida pelo Centro de Estudos para a Não Proliferação de James Martin, na Califórnia. Esse número representa um aumento de 13 vezes em relação aos testes de mísseis realizados durante o regime de seu pai, Kim Jong Il, que governou por 17 anos.
Este aumento significativo no número de testes de mísseis e o fortalecimento das capacidades nucleares da Coreia do Norte preocupam tanto Washington quanto Seul, numa altura em que as relações militares entre Pyongyang e Moscovo também adicionam novas camadas de tensão à segurança da região do Indo-Pacífico.