Esta inesperada característica de personalidade pode ser sinal de propensão para o crime, revela novo estudo

Muitos dos traços de personalidade comumente associados a criminosos são previsíveis, como a agressividade, o narcisismo e a defensividade. No entanto, uma nova investigação trouxe à luz uma característica surpreendente que, em geral, seria associada a pessoas com uma disposição mais positiva.

O estudo revelou que a abertura – definida pelos especialistas como a disposição para experimentar novas experiências – é uma característica frequentemente presente em indivíduos que cometem delitos. Esta descoberta foi feita por investigadores da Universidade Babes-Bolyai, na Roménia, que conduziram entrevistas com reclusos de uma prisão de alta segurança e compararam os seus traços de personalidade com um grupo de controlo correspondente da comunidade.

Os investigadores afirmaram que o gosto dos prisioneiros por novas experiências pode também aumentar a sua predisposição para correr riscos, o que, por sua vez, pode levar a comportamentos criminosos. Curiosamente, embora a abertura pareça estar ligada à prática de crimes iniciais, o estudo revelou que este traço não é um preditor de reincidência criminal.

De acordo com a investigação, esta característica de abertura é o único traço da chamada “tríade positiva” que aumenta a probabilidade de comportamento criminoso. Outros traços considerados positivos, como a extroversão, foram, na verdade, menos comuns tanto em criminosos primários como em reincidentes, em comparação com indivíduos sem histórico criminal.

A professora Laura Visu-Petra, que liderou a investigação na Universidade Babes-Bolyai, explicou ao PsyPost: “Indivíduos envolvidos em atividades criminosas apresentam instabilidade emocional (alto neuroticismo), emoções positivas reduzidas, menor assertividade e sensibilidade diminuída ao feedback social (baixa extroversão)”. A professora sublinhou que, embora a extroversão normalmente esteja associada à sociabilidade e assertividade, esta característica estava menos presente nos criminosos, sugerindo que, em geral, estas pessoas são mais reservadas ou menos extrovertidas do que os seus pares.

Outro aspeto interessante da investigação foi a associação entre neuroticismo e comportamentos criminosos. O neuroticismo – que se traduz numa tendência para responder mal ao stress, levando a estados de ansiedade, raiva e tristeza – mostrou-se consistentemente ligado tanto à prática inicial de crimes como à reincidência. Isto indica que a instabilidade emocional pode ser um fator de risco para o envolvimento contínuo em atividades criminosas.

O estudo, publicado na revista Scientific Reports, envolveu um total de 578 participantes, divididos em dois grupos: uma amostra de 282 indivíduos da comunidade em geral e um grupo de 296 reclusos de duas prisões de máxima segurança na Roménia. O grupo de reclusos foi ainda subdividido em dois subgrupos: 129 eram infratores primários e 167 eram reincidentes.

Uma abordagem invulgar adotada pelos investigadores foi a observação direta de dois dos autores dentro da prisão, para obter uma visão mais representativa dos traços de personalidade dos detidos. Esta metodologia permitiu uma análise mais aprofundada e detalhada dos comportamentos e atitudes dos reclusos.

Um dos aspetos mais notáveis do estudo foi a identificação de que os traços da “tríade negra” – que incluem a instabilidade emocional, a propensão para o risco e a desonestidade – foram os mais fortes preditores de comportamentos criminosos. “Cada combinação individual destes traços relaciona-se de maneira significativa com o comportamento criminoso e a probabilidade de reincidência”, explicou a professora Visu-Petra. No entanto, não se verificou que outros traços, como a falta de empatia, a natureza vingativa e o sentimento de merecer mais do que os outros, fossem indicadores significativos de propensão para a prática de crimes.

Outra descoberta interessante foi a associação entre o sadismo – a tendência para desfrutar ao causar sofrimento a outros – e a prática de crimes pela primeira vez, mas não com a reincidência. Os cientistas alertam, porém, que nem todas as pessoas com traços da “tríade negra” se tornarão criminosos, e alguns indivíduos com estes traços até ocupam cargos elevados no mundo empresarial.

A investigação espera contribuir para a forma como os profissionais em instituições correcionais tratam os reclusos, fornecendo uma compreensão mais aprofundada dos traços de personalidade que podem estar presentes em indivíduos propensos à criminalidade. “Isto não só terá impacto nos profissionais que trabalham em instalações correcionais, mas também contribuirá para uma comunidade mais segura e compreensiva para todos nós”, concluíram os investigadores.

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