“Está a fazer o papel de primeira-dama”: Filha de Kim Jong-un ganha protagonismo na Coreia do Norte e está a ser preparada para a sucessão

Kim Ju Ae, filha do líder norte-coreano, surge cada vez mais como figura central do regime. Analistas apontam para um processo de sucessão em curso, que poderá colocá-la como a primeira mulher a liderar o país.

Pedro Gonçalves
Maio 20, 2025
19:13

A presença cada vez mais visível de Kim Ju Ae, filha do líder da Coreia do Norte, Kim Jong-un, em eventos oficiais e diplomáticos tem alimentado especulações de que estará a ser preparada para suceder ao pai na liderança do país. A jovem, cuja idade é estimada como estando na adolescência, já participou em mais de 40 aparições públicas desde a sua estreia em 2022 — um número inédito para alguém tão jovem no contexto político norte-coreano.

De acordo com Cho Han-bum, investigador sénior no Instituto de Unificação Nacional da Coreia (KINU), um centro de investigação estatal sul-coreano, “não há mais dúvidas quanto ao progresso do processo de sucessão de Kim Ju Ae”, declarou em entrevista à agência Yonhap. Cho acrescentou que Ju Ae “está a desempenhar essencialmente o papel de primeira-dama da Coreia do Norte”, um título que reforça ainda mais a sua visibilidade num regime que sempre valorizou a linhagem da família Kim como símbolo de continuidade e estabilidade.

“Filha mais amada” e a imagem de um pai e líder forte
O mais recente exemplo da proeminência de Ju Ae deu-se a 9 de maio de 2025, quando acompanhou o pai numa cerimónia na embaixada da Rússia em Pyongyang para assinalar o Dia da Vitória — o fim da Segunda Guerra Mundial na Europa. A agência estatal KCNA (Korean Central News Agency) descreveu-a nesse evento como a “filha mais amada”, reforçando a linguagem reverencial com que os meios de comunicação do regime se referem à jovem.

A retórica oficial tem-se intensificado, com Ju Ae a ser descrita como “pessoa de orientação” e até “General Estrela da Manhã” — este último título tendo um peso simbólico significativo na propaganda norte-coreana, pois “estrela da manhã” é uma expressão historicamente ligada a figuras emergentes com destino à liderança.

Apesar da opacidade habitual do regime, observadores têm notado que esta atenção à filha de Kim poderá também servir um outro propósito: reforçar a imagem de Kim Jong-un enquanto pai protetor e líder de uma linhagem estável, numa altura em que a sua saúde suscita preocupações.

A sucessão e o peso da linhagem de Paektu
Embora a irmã de Kim, Kim Yo Jong, de 37 anos, continue a ser uma figura influente — responsável pela propaganda do regime e considerada durante anos como potencial sucessora —, a jovem Ju Ae parece ter ganho terreno na preferência do líder norte-coreano.

A escolha de um sucessor não é um assunto menor num país que possui armas nucleares e cujo equilíbrio político depende fortemente da estabilidade interna. Kim Jong-un, segundo os serviços secretos da Coreia do Sul, sofre de problemas de saúde graves, sendo fumador, obeso (com mais de 135 quilos) e com risco elevado de doenças cardiovasculares e diabetes. O sucessor herdará, assim, o controlo do arsenal nuclear norte-coreano e o desafio diplomático com a Coreia do Sul e os Estados Unidos.

O académico norte-americano Sean King, vice-presidente da consultora Park Strategies, sediada em Nova Iorque, reforça que qualquer sucessão passará inevitavelmente pela linhagem da família Kim: “Seja quem for o escolhido, terá de pertencer à famosa linhagem do Monte Paektu, porque a própria fundação do Estado norte-coreano está ligada, tanto em termos simbólicos como práticos, à família Kim”, afirmou à revista Newsweek.

Também o deputado sul-coreano Lee Seong-kweun citou em julho do ano passado informações obtidas junto dos serviços de informação da Coreia do Sul, segundo os quais “Pyongyang está a ensinar Kim Ju Ae a ser sucessora, o que indica que ela é a mais provável escolha”.

Ainda sem confirmação oficial
Apesar de todos os indícios, não existe até ao momento uma confirmação formal por parte do regime norte-coreano de que Kim Ju Ae será de facto a próxima líder. Analistas sublinham que, embora a sua visibilidade seja sem precedentes, poderá tratar-se apenas de uma estratégia de comunicação cuidadosamente delineada para reforçar a imagem pública de Kim Jong-un como chefe de uma família dirigente, em continuidade com os seus antecessores.

A sucessão dinástica permanece um mistério num dos regimes mais fechados do mundo. No entanto, o número crescente de aparições da jovem Ju Ae, o vocabulário reverencial com que é descrita e a ausência de outras figuras tão próximas do líder sugerem que poderá estar já em marcha uma inédita transição para uma liderança feminina na Coreia do Norte. Se tal se confirmar, Kim Ju Ae tornar-se-á a primeira mulher a liderar um dos regimes mais patriarcais do planeta.

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