Especialistas alertam: guardar sobras de refeições em papel de alumínio pode representar riscos para a saúde

Com a chegada da Páscoa, muitas famílias portuguesas aproveitam a ocasião para se reunirem à volta da mesa e saborearem pratos tradicionais como o borrego assado, cabrito no forno ou bacalhau à Brás. O mesmo acontece durante outras festividades, como o Natal ou o Ano Novo, quando os jantares fartos inevitavelmente resultam em sobras que se prolongam por dias. No entanto, especialistas em segurança alimentar estão a lançar um alerta importante: a forma como conservamos esses alimentos pode colocar a saúde em risco — e o culpado pode estar no uso do papel de alumínio.

Embora o papel de alumínio seja amplamente utilizado nas cozinhas — sobretudo pela sua praticidade — não é, segundo os especialistas, o meio mais seguro para armazenar sobras de comida. De acordo com o Dr. Zachary Cartwright, cientista alimentar da Aqualab em Chicago, citado pelo Daily Mail, este material não cria uma vedação hermética, essencial para evitar a proliferação de bactérias perigosas.

“O papel de alumínio, por não ser adesivo e não se moldar perfeitamente aos alimentos, não consegue selar o conteúdo de forma hermética”, explicou o Dr. Cartwright à revista Southern Living.

Essa falha na vedação permite a entrada de oxigénio, criando condições ideais para o crescimento de microrganismos como Staphylococcus aureus (que pode causar intoxicação alimentar grave), Bacillus cereus (responsável por vómitos, dores abdominais e diarreia) e até mesmo agentes mais letais como Clostridium botulinum — bactéria que provoca o botulismo — e Listeria monocytogenes, que pode causar listeriose, uma doença particularmente perigosa para grávidas, idosos e pessoas com o sistema imunitário comprometido.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) alerta mesmo que as toxinas produzidas pelo Clostridium botulinum estão entre “as substâncias mais letais conhecidas”, podendo causar paralisia e insuficiência respiratória.

Evitar a contaminação: como guardar sobras de forma segura
A recomendação dos especialistas é clara: evitar o uso de papel de alumínio para guardar alimentos cozinhados. Em vez disso, deve optar-se por recipientes herméticos ou sacos de congelação com fecho, que impedem a entrada de ar e reduzem drasticamente o risco de contaminação bacteriana.

Além disso, é fundamental respeitar os tempos e temperaturas de armazenamento. A Agência de Normas Alimentares do Reino Unido (Food Standards Agency – FSA) e os Serviços de Inspeção e Segurança Alimentar dos EUA (FSIS) reforçam que:

  • Os alimentos devem ser refrigerados no máximo até duas horas após serem servidos (ou uma hora, se a temperatura ambiente ultrapassar os 32°C);
  • Devem ser consumidos no prazo de 48 horas;
  • Devem ser mantidos a uma temperatura inferior ou igual a 5°C no frigorífico, ou -18°C no congelador para conservação prolongada;
  • Nunca devem ser armazenados em locais frescos mas não refrigerados, como varandas ou garagens — uma prática que, segundo a FSA, ainda é comum em 27% dos lares britânicos, e que representa um risco significativo.

Cuidado com alimentos ácidos
A Food Standards Scotland (FSS) acrescenta ainda outro alerta: o contacto prolongado entre papel de alumínio e alimentos altamente ácidos — como ruibarbo, frutas cítricas ou couve — pode originar uma reação química, libertando vestígios de alumínio para o alimento. Apesar de, em regra, os níveis estarem dentro dos limites seguros, essa exposição pode alterar o sabor e, potencialmente, ter efeitos cumulativos na saúde.

“O papel de alumínio ou recipientes de alumínio podem afetar o sabor destes alimentos, especialmente se forem armazenados por longos períodos”, refere a FSS.

Boas práticas para conservar sobras de refeições

  • Armazene as sobras em recipientes herméticos não reativos (vidro ou plástico próprio para alimentos);
  • Identifique e date os recipientes para garantir que são consumidos dentro do prazo;
  • Guarde as sobras na prateleira superior do frigorífico, longe de carnes cruas;
  • Se tiver grandes quantidades de sobras, divida-as em porções mais pequenas para facilitar o arrefecimento rápido;
  • Evite recongelar alimentos já descongelados.

Seja após o almoço de Páscoa, o jantar de Natal ou qualquer outra celebração familiar com fartura à mesa, o armazenamento correto dos alimentos é essencial para evitar doenças alimentares. Embora prático, o papel de alumínio não é seguro para guardar sobras de comida, e a sua utilização deve ser repensada à luz das evidências científicas.

Numa época em que o combate ao desperdício alimentar é cada vez mais relevante, é igualmente vital garantir que as sobras reaproveitadas não se transformem num risco para a saúde.