Espanha prepara-se para 8.200 eleições regionais e municipais este domingo

Espanha tem, este domingo, 8.200 eleições num só dia, entre municipais e regionais, e cada uma com as suas peculiaridades, pelo que dificilmente servem de antevisão das legislativas de dezembro, dizem académicos da ciência política.

Assim, haverá, em simultâneo, eleições legislativas em 12 das 17 regiões autónomas espanholas, em 8.134 municípios, nas três deputações forais do País Basco, nos concelhos insulares das Baleares, nos ‘cabildos’ das ilhas Canárias e nas cidades autónomas de Ceuta e Melilla.

As eleições não têm todas regras iguais e as instituições de cada região também não coincidem sempre, num espelho da diversidade e complexidade política, administrativa e social de Espanha.

“São 8.200 eleições, cada uma com as suas peculiaridades e os seus elementos mais gerais”, sintetizou o politólogo Pablo Simón, professor na Universidade Carlos III, de Madrid.

Para este académico, estas eleições não podem ser vistas como uma primeira volta das legislativas nacionais previstas para dezembro, como já ficou provado em anos anteriores, em que o partido que teve mais votos nas regionais e municipais, em termos globais, perdeu a seguir as legislativas nacionais.

No entanto, acrescentou, haverá resultados esta segunda-feira com impacto nas expectativas relacionadas com os grandes partidos e outros de âmbito nacional.

Neste contexto, as atenções vão focar-se nas eleições regionais e “nas batalhas” de grandes cidades como Barcelona, Valência ou Sevilha, onde não é claro quem vai ganhar e uma vez que no caso de Madrid se dá como certo que tanto o governo regional como a cidade continuarão em mãos do Partido Popular (PP, direita).

A nível regional, os casos que parecem estar mais em aberto e a poder decidir-se por poucos votos são Aragão, Baleares e Comunidade Valenciana, todas atualmente lideradas pelos socialistas.

Não vão a voto por terem tido eleições antecipadas ou estarem com um calendário próprio, as regiões da Andaluzia, Castela e Leão, Catalunha, Galiza e País Basco.

Nas 12 comunidades autónomas em que há eleições este ano, o partido socialista (PSOE) lidera os governos regionais de nove (Aragão, Astúrias, Baleares, Canárias, Castela La Mancha, Comunidade Valenciana, Extremadura, Navarra e Rioja); o PP de duas (Madrid e Múrcia) e o Partido Regionalista da Cantábria de uma (Cantábria).

Serão, assim, umas eleições com “uma direita que joga a atacar e uma esquerda que joga a defender” e “o PP de certeza que vai melhorar o resultado em relação a 2019, vai ter mais votos”, porque, nos últimos quatros anos, o Cidadãos, também de direita, que disputava o mesmo espaço político dos populares, desapareceu e, em muitos locais, já nem sequer apresenta listas, explica Pablo Simón.

“Para mim, o mais importante vai ser quanto cresce o Partido Popular e, sobretudo, onde. Porque isso pode condicionar que se somem maiorias de governo ou não”, defende.

Já o PSOE, afirma, chega “algo mais débil” a estas eleições, até porque teve um resultado muito bom nas anteriores, num contexto que lhe era muito favorável, marcado por escândalos de corrupção e divisões internas no PP, que não se repetem.

O politólogo alerta, porém, para as “derivadas locais”, como candidatos muito populares nos seus territórios e temas específicos que acabam por ser determinantes, além do peso que têm os partidos de âmbito regional, como acontece na Catalunha, onde os independentistas são protagonistas nas eleições municipais e são, por exemplo, uma das peças da “batalha por Barcelona”.

A professora de Ciência Política na Universidade de Valência Astrid Barrio acrescenta que as eleições vão também servir para medir a capacidade de resistência dos grandes partidos espanhóis e a de sobrevivência das forças pequenas e novas, que nasceram, essencialmente, na última década e que desde 2014 provocaram uma “grande mudança no sistema de partidos” no país, com destaque para Cidadãos, Vox (extrema-direita) e Podemos (extrema-esquerda e atualmente na coligação do governo nacional, com o PSOE).

“De forma diferente do que aconteceu em Itália ou França, em Espanha parece que os grandes partidos se aguentam e os pequenos, os novos partidos, têm dificuldade em resistir ao longo de várias eleições. Não sei se são, como alguém os definiu, partidos de situação, que respondem a momentos específicos, mas têm dificuldade em se consolidar e manter-se ao longo do tempo”, afirma.

O Cidadãos “praticamente pode dar-se por completamente desaparecido” e o Podemos vive uma “grande divisão interna e “já não conta com a cumplicidade das periferias” políticas que o fizeram nascer e crescer, no contexto da crise anterior crise financeira, e que parecem preferir o recém-criado movimento Somar, da vice-presidente do Governo e dirigente comunista Yolanda Díaz.

A “grande incógnita”, afirma Astrid Barrio, é o Vox, que parece ser o único que ainda está num ciclo de ascensão e, para esta politóloga, esta segunda-feira será o momento de perceber se o PP consegue mesmo reocupar o espaço que o Cidadãos deixou livre ou se a extrema-direita se consolida.

Além de estar em parlamentos regionais e de ser o terceiro maior partido no Congresso de Espanha, o Vox chegou pela primeira vez a um governo no ano passado, numa coligação com o PP no executivo regional de Castela e Leão.

Quanto aos grandes partidos, Astrid Barrio diz que o PSOE chega a estas eleições “com umas expectativas em baixo”, em relação ao resultado anterior, “mas aguentando relativamente bem”, após mais de cinco anos no Governo nacional que coincidiram com a pandemia e a guerra na Ucrânia.

Já o PP, com um líder novo eleito há pouco mais de um ano, Alberto Nuñez Feijóo, tem expectativas de melhorar, embora estejam “mais contidas” nos últimos tempos, por o presidente do partido estar a perder popularidade.

“E depois, porque Espanha fica incompleta se falamos só dos partidos de âmbito estatal, é preciso ver o que acontece em alguns territórios com o peso de partidos de âmbito não estatal, sobretudo num contexto a pensar já nas eleições gerais”, acrescenta Astrid Barrio, que assinala a Comunidade Valenciana, a Catalunha ou Aragão.

O atual Governo de Espanha é uma coligação do PSOE e da plataforma Unidas Podemos cuja viabilização precisou de deputados de partidos catalães e bascos, independentistas, além de parlamentares de outras forças pequenas regionalistas mais pequenas.

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