Escândalo sexual, demissão súbita e um diplomata morto: O ‘filme’ que está a abalar o governo sueco

O governo sueco está a atravessar uma das suas mais graves crises institucionais dos últimos anos, marcada por uma sucessão de escândalos envolvendo altos responsáveis, alegações de espionagem e, mais recentemente, a morte misteriosa de um diplomata detido pelas autoridades. A sucessão de episódios pôs em causa a liderança do primeiro-ministro conservador Ulf Kristersson e deixou a oposição em pé de guerra.

O primeiro sinal de alarme soou a 8 de maio, quando o governo sueco anunciou a nomeação do ex-embaixador na Ucrânia, Tobias Thyberg, como novo assessor nacional de segurança — cargo criado por Kristersson em 2022 na sequência da invasão russa da Ucrânia. Meia hora após o anúncio oficial, os principais meios de comunicação suecos começaram a receber imagens íntimas do diplomata, alegadamente retiradas de um perfil que mantinha na aplicação de encontros Grindr.

Apesar de Thyberg já ter encerrado a conta antes da sua nomeação, a circulação das imagens foi imediata e forçou a sua demissão ainda antes de tomar posse formalmente. O próprio reconheceu que deveria ter comunicado a existência das imagens durante o processo de verificação de segurança. A omissão, segundo Kristersson, constituiu uma falha grave. “Ocultar informação que possa ser usada por potências estrangeiras é uma falta grave”, declarou o primeiro-ministro sueco, num tom de crítica clara ao seu antigo diplomata.

A queda de Thyberg foi rapidamente associada à do seu antecessor, Henrik Landerholm, amigo de infância de Kristersson, que se demitira em janeiro deste ano depois de uma série de incidentes envolvendo documentos classificados. Segundo se soube, Landerholm terá deixado papéis sensíveis num hotel e esquecido um telefone governamental na embaixada sueca na Hungria.

A oposição social-democrata não perdeu tempo a reagir. Peter Hultqvist, porta-voz da Defesa, afirmou que “falhar duas vezes num cargo tão sensível projeta uma imagem de incompetência em Suecia”, acentuando a ideia de que o governo não está à altura das exigências de segurança nacional.

O caso Thyberg também reacendeu o debate sobre os limites da vida privada dos funcionários públicos, com alguns sectores da sociedade civil e da imprensa a acusarem Kristersson de homofobia e de ter reagido em pânico moral à exposição das imagens do diplomata.

Contudo, a crise ganhou contornos ainda mais dramáticos quando, apenas quatro dias depois da saída de Thyberg, os serviços secretos suecos (Säpo) detiveram um diplomata sénior por suspeitas de espionagem. A televisão pública SVT avançou que o caso estaria ligado à divulgação das imagens íntimas de Thyberg. A identidade do detido não foi oficialmente confirmada, mas sabia-se que desempenhara funções de destaque em várias embaixadas suecas fora da Europa.

O diplomata negou as acusações, descrevendo a sua detenção como uma “experiência aterradora” e apresentando queixa contra a polícia por alegado uso excessivo da força. Imagens transmitidas pela televisão mostravam a porta do seu apartamento arrombada, e o diplomata necessitou de cuidados médicos devido às lesões sofridas durante a operação.

Dois dias após a sua libertação, a 17 de maio, o diplomata foi encontrado morto. A polícia sueca afirmou que não existem indícios de crime, mas abriu uma investigação para apurar as circunstâncias da morte, o que só veio adensar o mistério e aumentar o clamor político em torno do caso.

Em pano de fundo, está uma crescente preocupação com as chamadas ameaças híbridas, com as autoridades suecas a alertarem, nos últimos meses, para o aumento de atividades hostis levadas a cabo por potências como a Rússia, China e Irão — nomeadamente através de ciberataques, campanhas de desinformação e espionagem.

Porém, para muitos observadores, a atual sucessão de falhas, fugas de informação e decisões precipitadas evidencia antes de mais a fragilidade interna do próprio Estado sueco. A crise revelou brechas nos mecanismos de segurança, ausência de filtros eficazes na nomeação de cargos sensíveis e uma gestão política reativa, alimentando dúvidas sobre a competência do executivo.

Enquanto a investigação sobre a morte do diplomata prossegue, a oposição exige explicações públicas e responsabilidades políticas claras. Para o primeiro-ministro Ulf Kristersson, que chegou ao poder em 2022, esta poderá ser a crise mais difícil do seu mandato — e um verdadeiro teste à sua liderança.