“Éramos quatro ou cinco”: Suspeitos de violarem menor em Loures continuam nas redes sociais. PJ admite participação de outros jovens

A Polícia Judiciária (PJ) está a investigar um caso de alegada violação em grupo de uma menor em Loures, no qual estão envolvidos três jovens entre os 17 e os 19 anos. No entanto, um dos suspeitos afirmou recentemente, através de um vídeo publicado nas redes sociais, que o grupo era maior, referindo: “Éramos quatro ou cinco”.

Num primeiro vídeo partilhado antes das detenções, o jovem descreveu um encontro sexual com vários “tiktokers famosos” e uma rapariga, usando expressões que, no jargão juvenil, indicam um encontro em grupo. Ainda no mesmo registo, referiu que a jovem teve de receber assistência hospitalar e que “ficou um dia sem andar”. No entanto, após a sua detenção e a de outros dois indivíduos, publicou um novo vídeo a negar qualquer envolvimento e a alegar que a jovem teria inventado tudo.

Numa transmissão anterior, quando questionado por um youtuber sobre “a coisa mais insanamente louca” que já tinha feito, o suspeito respondeu entre risos: “Gera a dar no balão com tiktokers famosos”. No léxico informal, “gera” refere-se a um encontro sexual em grupo e “dar no balão” é a expressão associada ao consumo de óxido nitroso, também conhecido como “droga do riso”. Durante o vídeo, chegou mesmo a mostrar no telemóvel uma imagem de uma jovem seminua.

A conversa prosseguiu com o youtuber a perguntar: “E depois disso, ela [a vítima] ficou fixe?”. O suspeito respondeu: “Não, teve que ir ao hospital. Ficou um dia sem andar, éramos uns quatro ou cinco”.

PJ admite a existência de mais envolvidos
A investigação da PJ não descarta a possibilidade de mais jovens estarem envolvidos, conforme indicado pelo diretor da PJ de Lisboa e Vale do Tejo, João Oliveira: “Admitimos tudo, mormente a composição do grupo. Se eram três ou se havia mais, está em aberto desde a primeira hora”.

No vídeo mais recente, publicado depois das detenções, um dos suspeitos contradisse a versão inicial, alegando que, afinal, “não houve qualquer contacto físico” com a menor e acusando-a de ter inventado os factos, revela o Observador: “A gente ia ter com ela (…), mas chegámos e ficámos com nojo e não tivemos nada com ela, nem lhe tocámos nem nada. E ela, como ficou transtornada, porque queria ‘nos pegar’, foi inventar uma grande história”.

A participação inicial do caso partiu do Hospital Beatriz Ângelo, para onde a menor se dirigiu “pouco tempo depois dos factos”. Segundo João Oliveira, “o volume e a qualidade dos indícios recolhidos pela investigação até ao momento em que foram detidos são muito robustos”, acrescentando que “não estamos dependentes da perícia” do Instituto Nacional de Medicina Legal para prosseguir com o inquérito. A perícia poderá, no entanto, confirmar se “os danos corporais são compatíveis com a denúncia apresentada”.

Desde as detenções, os três jovens têm mantido uma presença ativa nas redes sociais, justificando-se e respondendo a comentários. Esta exposição tem gerado reações fortes, com ameaças de justiça pelas próprias mãos por parte de outros utilizadores. No entanto, a PJ não considera necessário prestar proteção especial aos suspeitos. “Se estão com algum nível de exposição nas redes sociais, são eles que se estão a expor. Se a PJ está a fazer alguma coisa para os proteger? Não está nem tem que estar”, afirmou João Oliveira.

Os três jovens ficaram em liberdade com medidas de coação que incluem apresentações semanais numa esquadra, proibição de contactar a vítima por qualquer meio (incluindo redes sociais ou terceiros) e afastamento mínimo de 50 metros da menor, bem como 500 metros da sua casa e escola.

As críticas à não detenção dos suspeitos levaram o Conselho Superior da Magistratura a emitir um esclarecimento, referindo que as medidas aplicadas tiveram em conta “perigos de fuga, de perturbação do inquérito, de conservação da prova ou da repetição da atividade criminosa”. O órgão reforçou ainda que o interrogatório judicial “não corresponde a um julgamento dos factos”.